segunda-feira, 6 de abril de 2020

Fórmula 1 1997 #1 - Introdução


Na quarentena, o blog está de volta com a promessa de relembrar aos fãs da Fórmula 1 que estão em casa (ou mesmo ainda trabalhando) a temporada de 1997 da categoria, um dos melhores anos para o esporte naquela década, com o surgimento de uma rivalidade promissora, muitas alternativas e polêmicas - tudo aquilo que torna a F1 maravilhosa. Com esse intuito, este será um post introdutório, curto, mas que apresente um calendário provisório de "nossa temporada".

O mundo era um lugar muito diferente ao fim de 1996. Aquele que vos escreve sequer havia nascido. O Brasil era governado por Fernando Henrique Cardoso. Bill Clinton e Boris Iéltsin haviam sido reeleitos em seus países. Nelson Mandela assinava uma nova constituição que bania o apartheid na África do Sul. E a Ovelha Dolly se tornava o primeiro mamífero a ser clonado na história.

No esporte, a Seleção Olímpica de Futebol havia sido derrotada dolorosamente pela Nigéria de Kanu na semi-final das Olimpíadas de Atlanta. Muhammad Ali havia acendido a pira olímpica, a Palestina participava pela primeira vez dos Jogos, e o Brasil era ouro e prata no voleibol de praia. A Juventus derrotara o River Plate para ser campeão do mundial de clubes, e o campeonato brasileiro era vencido pelo Grêmio comandado por Luiz Felipe Scolari.

Na Fórmula 1, Damon Hill finalmente conquistava seu primeiro título mundial antes de ser chutado pela Williams. Jacques Villeneuve fez o suficiente para impressionar a equipe e se tornar primeiro piloto em um ano que prometia ser conturbado para o time de Grove. O julgamento da morte de Ayrton Senna começaria a causar reboliço em todo paddock. Era um ponto a mais a ser explorado por Schumacher e pela Ferrari em 1997.


Durante essa semana, vocês serão apresentados às equipes, pilotos e como o circo chegava para mais um ano de competições pelo globo. Espero que gostem. Aproveitem!

CALENDÁRIO PROVISÓRIO DO BLOG:
07/04/2020 (terça-feira): Lola e Stewart;
08/04/2020 (quarta-feira): Minardi e Tyrrell;
09/04/2020 (quinta-feira): Sauber e Prost;
10/04/2020 (sexta-feira): Jordan e McLaren;
11/04/2020 (sábado): Benetton e Ferrari;
12/04/2020 (domingo): Williams e Arrows;
Depois disso, tentarei trazer corridas diariamente, como nos velhos tempos.

CALENDÁRIO DA FÓRMULA 1 1997:
Rodada 1 - 09/03 - GP da Austrália - Albert Park;
Rodada 2 - 30/03 - GP do Brasil - Interlagos;
Rodada 3 - 13/04 - GP da Argentina - Buenos Aires;
Rodada 4 - 27/04 - GP de San Marino - Imola;
Rodada 5 - 11/05 - GP de Mônaco - Monte Carlo;
Rodada 6 - 25/05 - GP da Espanha - Barcelona;
Rodada 7 - 05/06 - GP do Canadá - Montreal;
Rodada 8 - 29/06 - GP da França - Magny-Cours;
Rodada 9 - 13/07 - GP da Grã-Bretanha - Silverstone;
Rodada 10 - 27/07 - GP da Alemanha - Hockenheimring;
Rodada 11 - 10/08 - GP da Hungria - Hungaroring;
Rodada 12 - 24/08 - GP da Bélgica - Spa-Francorchamps;
Rodada 13 - 07/09 - GP da Itália - Monza;
Rodada 14 - 21/09 - GP da Áustria - A1-Ring;
Rodada 15 - 28/09 - GP de Luxemburgo - Nürburgring;
Rodada 16 - 12/10 - GP do Japão - Suzuka;
Rodada 17 - 26/10 - GP de Portugal - Estoril;

Já adianto meus agradecimentos à todos os canais no YouTube onde pude encontrar as provas de 1997, aos perfis F1 1997 e F1 in the 1990s do Twitter, às equipes do Atlas F1 e do STATS F1 pelo trabalho fenomenal e grande suporte que dão aos bloggers e fãs. Qualquer adendo será feito nos posts.

Imagens tiradas dos perfis F1 in the 1990s e Legendary F1.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

O mistério de Lyon


Alguns eventos têm a capacidade de moldar o futuro de forma estratosférica, alterando acontecimentos que antes pareciam inevitáveis. Até mesmo pequenas ações podem influenciar o porvir, sejam intencionais ou não. Um desses eventos ocorreu entre os meses de julho e agosto de 1924, perto de Lyon, quando um jovem italiano de 26 anos tomou uma decisão que até hoje está cercada de mistério. Essa decisão levaria ao início da ascensão desse jovem ao comando de uma equipe que mais tarde o influenciaria na criação de outra, que se tornaria ainda mais marcante: Ferrari.

Dentre vários mistérios que cercam a vida da figura de Enzo Ferrari, este é um dos mais interessantes.

Filho de ferreiro modenense, Enzo foi levado por seu pai para assistir ao espetáculo Circuito di Bologna em 1908, aos dez anos de idade. Lá, o pequeno italiano viu Felice Nazzaro em seu FIAT vencer a Coppa Florio. A paixão de Enzo Ferrari começara...

Em 1916, durante a I Guerra Mundial, Enzo Ferrari perde seu pai e seu irmão, sendo forçado a largar os estudos e a trabalhar como instrutor na escola de torneamento da oficina dos bombeiros de Modena. No ano seguinte, Enzo serviu ao exército italiano sendo designado para a 3º Divisão de Artilharia Alpina. Ele acabaria ficando gravemente doente, tendo de passar por duas cirurgias antes de ser desligado da 3º Divisão.

Já com a Grande Guerra chegando ao fim, Ferrari tenta emprego na FIAT, mas é negado. Ele se manteve em Turim onde encontrou uma empresa que construía veículos com excedentes da guerra. Em 1919, Enzo conhece Ugo Sivocci, piloto de testes da Construzioni Mecchanice Nazionali (CMN). Graças à esse encontro, Ferrari fez sua estreia em outubro com um quarto lugar na corrida de subida de montanha de Parma-Poggio di Berceto.

Em novembro de 1919, Enzo Ferrari corre na 10º Targa Florio. Sem pretensões de vitória, o piloto de 21 anos seria perseguido por uma matilha de lobos no caminho para a corrida, que foram dispersos após o modenense usar seu antigo revolver de serviço militar. Tentando sobreviver às intempéries de uma Targa Florio, Ferrari não estava classificado como um dos pilotos que terminou a prova, já que perdeu quarenta minutos após sofrer um vazamento no tanque de combustível.

Enzo Ferrari e Michele Conti na Targa Florio de 1920

Em 1920, Enzo Ferrari supera os problemas enfrentados na edição anterior e termina numa impressionante segunda colocação, com a melhor volta da prova, e atrás apenas de Guido Merengalli. Esse foi o primeiro resultado de expressão do modenense a bordo, agora, de um Alfa Romeo Tipo 40/60.  No ano seguinte, é segundo colocado em Mugello e quinto na Targa Florio, antes de sofrer um forte acidente nas vésperas do Grande Prêmio de Brescia, quando um rebanho de gado invadiu a estrada e Ferrari se viu obrigado a desviar de forma brusca. Felizmente, Enzo terminou 1921 como um piloto cada vez mais conhecido, já sob as asas da Alfa Romeo e, é claro, vivo.

Após um 1922 apagado, Ferrari teve os melhores anos de sua carreira entre 1923 e 1924, vencendo quatro provas: duas Circuito del Savio, uma Circuito del Polesine e a 1º Coppa Acerbo - superou também Tazio Nuvolari em duas ocasiões! Após vencer o Circuito del Savio em 1923, Enzo Ferrari encontrou o Barão de Baracca, pai do ás italiano Francesco Baracca, que voara com um cavalo rampante pintado em seu avião durante a Grande Guerra. A Baronesa Baracca então entregou ao piloto uma fotografia autografada e o direito de usar o desenho de seu filho, assim surgindo o cavalinho rampante negro com fundo amarelo da Scuderia Ferrari.

Com o recém-lançado P2 (uma quase copia do FIAT 805/405, modificado por Vittorio Jano), a Alfa Romeo foi para Pescara com o desejo de massacrar as Mercedes de Giulio Masetti e Giovanni Bonmartini na Coppa Acerbo em julho de 1924. O primeiro piloto da esquadra italiana era Giuseppe Campari, que correu com o novo P2 enquanto Enzo Ferrari continuava com um velho RL, sob ordens de deixar Campari passar caso seu companheiro se encontrasse atrás dele (que coisa, não?).

Para sorte de Ferrari, Campari abandonou ainda no início da prova, escondeu seu P2 em uma das ruas da rota de Pescara e passou a impressão aos Mercedes de que ainda estava na corrida. Enzo então segurou Bonmartini e sua Mercedes 28/95PS e venceu a Primeira Coppa Acerbo, uma conquista incrível que o renderia uma chance única dias depois.

O início do mistério.

No mesmo mês de julho, Enzo Ferrari foi convidado a participar de sua primeira corrida internacional. A Alfa Romeo inscreveu quatro carros para o Grande Prêmio da França, uma das três principais corridas do mundo, que seria realizado no dia 3 de agosto aos arredores de Lyon e Givors em um circuito de mais de 27 km. Enzo Ferrari, Giuseppe Campari, Louis Wagner e Antonio Ascari quatro P2. Pela primeira vez, o jovem piloto de 26 anos enfrentaria grandes nomes como Albert Divo, Robert Benoist, Ernest Friedrich, Dario Resta, Jules Goux e Louis Zborowski e com um carro capaz de derrotá-los.


Depois do primeiro dia de testes, no dia 18 de julho, Enzo Ferrari misteriosamente desapareceu. Onde estava o mais novo italiano da Alfa Romeo? Ele havia voltado para Modena, alegando problemas de saúde, muito provavelmente um colapso nervoso. Isso permanece um mistério. O que haveria feito Ferrari abandonar tão abruptamente aquela que seria a maior corrida de sua carreira? Qualquer registro daquele dia de testes desapareceu durante a II Guerra Mundial, como também a possibilidade de averiguar o desempenho de Enzo contra os grandes nomes da Europa. A prova seria vencida por Giuseppe Campari após Antonio Ascari ter problemas nas últimas duas voltas. Um domínio do Alfa Romeo P2.

Para deixar a situação ainda mais intrigante, Ferrari só voltaria a correr entre os anos de 1927 e 1931, o que aumenta o número de teorias sobre o motivo de seu abandono em Lyon. Estaria ele já planejando alguma posição administrativa dentro da marca? Quem vencesse uma prova de tamanha grandeza como GP da França estaria fadado a ser um piloto prestigiado e com a missão de mostrar que aquilo fora talento, sob ameaça de ser ridicularizado caso sumisse das corridas. Talvez a resposta não seja a de que Enzo era superior ao resto, mas sim que seu orgulho foi ferido quando percebeu que não conseguiria ser tão bom quanto os melhores.

Mais tarde na vida, Enzo Ferrari diria que sofreu um colapso nervoso e que gostaria de ser um grande piloto, mas não o era. Fez essas declarações de formas esparsas, nunca interligadas, sem nenhuma declaração oficial do que ocorrera em Lyon. Antonio Brivio, um dos pilotos da Scuderia Ferrari nos anos trinta, diria a Pino Allievi, da Gazetta dello Sport, que Ferrari havia abandonado porque havia percebido que não conseguia acompanhar os melhores.

Os desdobramentos da fuga de Ferrari seriam marcantes. Ele passaria a competir apenas em provas regionais, sem chamar atenção, vencendo provas ali e aqui sem aspiração nenhuma de conquistar o mundo. Com o tempo, seu conhecimento mecânico e sua habilidade exímia como homem de negócios, colocaram ele sob comando de sua própria equipe, a Scuderia Ferrari, fundada em 1929, que preparava carros da Alfa Romeo para competição. Era o início de uma história de conquistas, prestígio e paixão por velocidade.

Em Lyon, Ferrari acabara escolhendo entre Enzo piloto e Enzo construtor. A escolha todos nós sabemos qual foi. E somos gratos por isso.

Fontes: 
Enzo Ferrari e il mistero irrisolto di Lione
Dalla "Parma - Poggio di Berceto" del 1919 al "Circuito delle Tre Provincie" del 1931
1924 FRENCH GRAND PRIX
Enzo Ferrari
18 – 1924 French GP

Imagens tiradas do pinterest.comModelfoxbrianza

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Análise: Dádiva divina


É difícil fazer projeções diante de fatos recentes e sob fatores psicológicos que influenciam nossa opinião. Mas depois de três grandes corridas de Fórmula 1, temos que confessar que a categoria vai ter vida longa (e, tomara, eterna), Mesmo diante de setbacks, ela continua entregando o que é capaz para seus fãs. Hoje, vimos que quem disse que a F1 estava morta após o GP da França está cada dia mais enganado, sendo sacramentado por uma corrida maravilhosa vindo da dádiva divina - a chuva.

Não nos iludiremos, afinal, a próxima prova é na Hungria, em um circuito travado em que os caminhões atuais são incapazes de fazer uma ultrapassagem simples. Mas de qualquer forma, querendo ou não, tanto Ferrari quanto Red Bull provaram que tem condições sim de alcançar a Mercedes. A equipe alemã ainda não é ameaçada graças à incompetência ferrarista e a atual - e breve - incapacidade dos motores Honda. Quando ambos se acertarem, aí teremos corridas de verdade onde condições climáticas como calor e chuva não serão os causadores de grandes corridas.

Antes de entrar na análise da corrida, gostaria de comentar algo que deixei passar durante as últimas semanas.

Os grandes da F1

Em 2021, como todos sabem, a categoria terá mais uma grande mudança em seu regulamento. O efeito solo retornará e outras medidas estão sendo discutidas até serem finalmente entregues em outubro, após serem adiadas durante o fim-de-semana do GP da Canadá.

Eu não sou engenheiro da FIA nem de nenhuma equipe, logo, não posso garantir ou prever que graças ao efeito solo teremos corridas melhores daqui dois anos. Por isso, discuto mais o lado político desse adiamento e dos efeitos que, com ou sem ele, são sentidos.

O poder das grandes equipes, que dominam a categoria, é muito preocupante. Querendo ou não, a Mercedes tem sua grande influencia na Force India e na Williams, já a Ferrari engloba Haas e Alfa Romeo enquanto a Red Bull tem aquela que um dia já foi chamada de sua equipe-irmã, a Toro Rosso. Esse tipo de ligação é péssima, porque tira a possibilidade de metade do pelotão crescer e incomodar sua respectiva equipe-pai (digamos assim). Isso, simplesmente fecha a boca de chefes de equipe como Franz Tost, Günther Steiner e Frédéric Vasseur em momento de decisão como esse. A única equipe que realmente se pronunciou sobre esse adiamento em Paris foi a Renault de Cyril Abiteboul, demonstrando o quanto isso é um problema. Quanto mais tempo, maior será a influencia de Wolff, Binotto e Horner.

Carros medianos lutando com carros de ponta

Agora entramos na situação econômica. Quem está na frente investe baldes de dinheiro para lutar por vitórias e títulos. Se pararem de vencer e sumirem da ponta durante a entrada dessa grana alta, será fácil para uma Red Bull, por exemplo, abrir um buraco no grid e deixar a categoria com vergonhosos 16 carros. Sendo assim, cresce a necessidade de um teto de gastos para nivelamento das equipes, onde os grandes serão incapazes de dispararem por seu grande poderio econômico e não se assustaram por sua incompetência diante de tanto investimento.

Outra possibilidade na tentativa de aproximar as equipes é se espelhar na MotoGP e como eles transformaram a categoria em um grande fenômeno mundial. Eu não sei, infelizmente, o que realmente ocorre e como isso acontece, mas vemos, em diversas corridas, equipes clientes das montadoras lutando por vitórias e pódios. E, o mais incrível, alcançando e superando as grandes marcas em determinadas ocasiões. A Fórmula 1 teria muito a aprender com isso. Lá, por exemplo, existe uma diferença satisfatória entre Campeonato de Construtores e Campeonato de Equipes, além da possibilidade da compra de motos de anos anteriores por equipes do meio do pelotão, algo que já foi possível na F1 e que atualmente, caso não me falhe a memória, é proibido pelo regulamento.

Não que isso deva ocorrer sempre, mas que é bom para a categoria isso é inegável

Se olharmos para quarenta anos atrás, pegarmos uma corrida específica e assistir comparando com a atualidade, veremos que há pouca diferença. Uma equipe dominante às vezes sendo ameaçada por um ou dois pilotos, equipes medianas lutando por seus poucos pontos e uma prova com momentos monótonos e outros de emoção. Porém, se pegarmos uma sequência de corridas de quarenta anos atrás e compararmos com hoje, a diferença é absurda.

Vamos pegar a temporada de 1979 como exemplo. Nas cinco primeiras corridas daquele ano, a Ligier venceu três, com uma dobradinha, e a Ferrari duas, ambas com dobradinha. Nas cinco de 2019, a Mercedes venceu todas com dobradinha. Nove pilotos diferentes subiram ao pódio nessas primeiras provas de 1979, enquanto apenas cinco pilotos alcançaram tal feito em 2019. E a situação se agrava quando comparamos a quantidade de diferentes pilotos que pontuaram no mesmo período sob vigor de uma regra igualitária, ou seja, se tratando das seis melhores posições: 12 a 8.

"Ah! Eram outros tempos!", "os carros quebravam mais!". Então vamos dar uma olhada no grid de largada dessas provas. Em 2019, apenas três equipes diferentes foram capazes de colocar seus carros entre os quatro primeiros. Já em 1979, seis times diferentes estiveram presentes nas duas primeiras filas das cinco etapas iniciais. O dobro.

Redenção: surpresas no pódio

Pela disputa do campeonato, quarenta anos atrás, Gilles Villeneuve e Patrick Depailler dividiam a liderança com 20 pontos, seguidos por Jacques Laffite e Carlos Reutemann também empatados, mas apenas dois pontos atrás do lideres. Jody Scheckter e Mario Andretti vinham logo atrás há uma vitória da ponta do campeonato. Em 2019, Hamilton liderava com sete pontos mínimos de vantagem (os sete que dividem o primeiro do segundo na pontuação das corridas), mas atrás já surge um abismo com Max Verstappen, Sebastian Vettel e Charles Leclerc, todos com a metade dos pontos dos pilotos da Mercedes.

O que quero dizer é que o problema não é uma equipe ou outra dominando - pois isso sempre foi assim e sempre vai ser. O real problema é a inércia que os outros times tem nessa disputa. Ninguém é capaz de alcançar a dupla dominante e ameaçá-los. Em 1979, Lotus, Ferrari e Ligier estavam colados nas seis primeiras posições, se tratando da então campeã que massacrou à todos no ano anterior, e de outros dois construtores que já haviam abraçado e desenvolvido o carro-asa de forma impressionante. Já hoje vemos a Mercedes abrir vantagem e deixar Ferrari e Red Bull lutarem por um terceiro lugar.

Equipes que duela pelas últimas posições precisam da oportunidade de crescer

É esse tipo de competitividade que a Fórmula 1 precisa, onde equipes diferentes possam ameaçar as grandes e colocarem emoção na disputa de uma corrida ou até do campeonato. Nesse ano por exemplo, está mais emocionante acompanhar a disputa no meio do pelotão do que na ponta dele. Mais da metade do grid luta por um quarto lugar que vale ouro, e quem perder vai ficar com um humilhante nono posto no campeonato de construtores.

Isso tudo sem falar dos pífios vinte caminhões atuais. O presidente da FIA, Jean Todt, propôs que o reabastecimento voltasse à categoria para que os carros ficassem menores, facilitando ultrapassagens e tornando corridas em circuitos travados mais emocionantes. Mas existem problemas. Os rumores são de que todas as equipes são contra ao retorno do reabastecimento, primeiro pelo custo, segundo pela logística e terceiro pela segurança que precisa ser abarcada. Logo, os carros continuarão sendo trambolhos desengonçados. Não que isso vai realmente atrapalhar as disputas em 2021. Se cumprir o que promete, os carros do futuro terão menor arrasto aerodinâmico e causarão menor turbulência para quem vem atrás.

É esperar para ver o que a FIA decidirá até outubro. Até lá, a categoria (e seus fãs) estão entregues à boa vontade dos poderosos chefes de equipe.

Agora começa a análise da corrida.


Leclerc teve sorte de não ser atropelado por Hamilton. Falta grave de segurança

No início desse ano, o regulamento à cerca da largada sob Safety Car foi alterado, passando a ser realizadas voltas de reconhecimento antes do alinhamento do grid e a largada propriamente dita, com a redução do número de voltas de acordo com a quantidade de voltas de reconhecimento. Uma boa medida, "ótima para o show e como deve ser", nas palavras de Sérgio Pérez após a corrida. Isso permite mais disputas e uma largada carregada de emoção, com a possibilidade de acidentes e surpresas. Ontem, ambas as Red Bull não tracionaram bem e Kimi Räikkönen assumiu o terceiro lugar com a Alfa Romeo.

Chuva vai, chuva volta, a emoção da corrida mais uma vez foi causada por condições climáticas, que vieram e boa hora. Quem esteve com uma cabeça leve, errou menos e saiu com um ótimo resultado, diferentemente de quem se precipitava e errada na curva 16, onde a área de escape foi tão criticada, de forma errônea. Apesar de ser uma pista de dragster, aquele trecho do circuito ainda sim está fora da pista e deve punir os pilotos que erram. E puniu muito bem. Se houvesse brita lá, todos que passaram reto ficariam atolados, causando SCs desnecessários para retirada segura dos carros.

Pesadelo na Floresta Negra

A Mercedes que comemorava seus 125 anos de automobilismo, fez tudo que podia e conquistou a pole position na sorte. Mesmo com dor de garganta, Lewis Hamilton voltou a superar Bottas e os dois carros da Red Bull. Mas no domingo... a situação foi bem diferente. Querendo ou não, um dia todos erram. Até mesmo o grande inglês que há muito tempo não tinha um desempenho semelhante à alguns de sua mocidade na McLaren. Errou de forma boba, saindo duas vezes para fora (quando Vettel e Magnussen, tão criticados por seus erros, estavam na mesma condição), cruzando a pista de forma perigosa, entrando nos boxes irregularmente e andando muito devagar sob bandeira amarela. Apesar de tudo isso, recebeu apenas cinco segundos de punição quando esse número poderia ser maior. De forma semelhante, por exemplo, Sebastian Vettel foi punido no GP da Hungria de 2010 com um drive through quando segurou o pelotão para que Mark Webber retornasse entre ele e Fernando Alonso. A diferença é que, nesse caso, isso ocorreu na tentativa de beneficiar um terceiro.

Após a corrida, Hamilton usou a mesma dor de garganta que serviu para sua vanglória no sábado como desculpa para seu péssimo desempenho no domingo. Coisas assim que o tornam impopular. Basta ver a reação da torcida em suas duas escapadas, quando fora investigado duas vezes e quando recebeu sua punição. Ainda assim, sua estrela continuou brilhando, pois foi o único piloto que bateu na curva 16 e ainda assim se manteve na prova, herdando o nono lugar depois de tudo.

Enquanto isso, Valtteri Bottas, que tinha tudo para tirar a diferença no campeonato, também não foi bem. Seu melhor momento na prova foi quando passou a ser o maior concorrente pela vitória junto com Max Verstappen, mas incapacitado de perseguir o holandês. O ponto mais negativo foi estar atrás de Lance Stroll e não conseguir de ultrapassar o canadense graças à potencia do mesmo motor Mercedes que empurra ambos os carros. Sem se arriscar, o finlandês não conseguiu superar o tão criticado piloto da Racing Point. No fim, tentando se manter abaixo de um segundo atrás de Stroll, rodou e bateu na primeira curva, para delírio da torcida. Agosto é mês que vem já, Valtteri. E a Mercedes viveu um pesadelo devido, somente, à seus pilotos.

Finalmente! Acabou! (?)

A Ferrari também viveu seu pesadelo quando perdeu a primeira fila no grid com os problemas nos carros de Vettel e Leclerc no sábado. Mas, no domingo, estiveram perto da glória. O monegasco era segundo colocado quando bateu na Sudkurve e perdeu a chance de disputar e até arrancar a vitória de Verstappen, que já estava atrás dele. O monegasco já havia abusado duas vezes da sorte no mesmo ponto.

Já Sebastian Vettel fez corrida quase perfeita para sua redenção na Alemanha, saindo de último para terminar em segundo. Só não foi perfeita porque o alemão errou na última volta na Mercedeskurve, deixando Kvyat se aproximar e ameaçar a segunda posição até a Sachskurve, onde o ferrarista havia sofrido o acidente de 2018. Caso vencesse, seria a primeira vez na história que um piloto largando da última posição venceu uma corrida, só não superando, em número, John Watson. Apesar disso, vale dizer que o alemão não conseguiu ultrapassar Kimi Räikkönen na pista, só superando o ex-companheiro nos boxes e quando ele cometeu um erro na famosa curva 16... porém, saberemos o que estava acontecendo nos carros da Alfa logo mais no texto.

Voltando à Charles Leclerc, gostaria de comentar seu incidente nos boxes. Foi punido de forma justa, com a multa sendo dada para a Ferrari e não para o piloto. Mas ainda assim, é outro indicador de quão inconstante são as decisões dos comissários de prova. Em Mônaco, Max Verstappen perdeu o pódio pelo mesmo motivo, quando foi liberado de forma perigosa e atingiu Bottas no pitlane. Isso só serve para aumentar a teoria de conspiração que envolve Leclerc-Todt-Ferrari. Outra bobeira...

O novo rainmaster da F1

Enquanto isso, a Red Bull morre de rir com a Honda - na cara de Fernando Alonso. Outra vitória com desempenho fenomenal de Max Verstappen que, mesmo rodando, venceu e derrotou com autoridade ambos os pilotos da Mercedes. Para alegria da torcida laranja, o holandês agora ameaça até o vice-campeonato de Valtteri Bottas, após abrir uma vantagem de 21 pontos para Vettel e 42 para Leclerc. Uma surpresa grata e imensa para o melhor piloto da corrida e da temporada. E já são 20 provas consecutivas terminando, sempre, entre os cinco primeiros.

Porém, do outro lado da garagem, Pierre Gasly volta a viver seu inferno astral, muito atrás de seu companheiro e, agora, apanhando para a Toro Rosso. Depois de também largar mal, o francês não conseguiu se recuperar e ficou preso atrás dos carros do meio do pelotão, consagrando o fato com seu estranho incidente com Alex Albon nas últimas voltas. Na câmera onboard é possível ver que o tailandês fechou o colega de equipe, mas também que Gasly não calculou direito o momento da manobra. Helmut Marko, com todo seu histórico, deve estar babando sobre o contrato do francês. Agora, ele tem decisões difíceis a serem tomadas sobre o futuro de três de seus pilotos nas próximas semanas.

McLaren volta a se destacar e abrir vantagem na luta no meio do pelotão

Na McLaren, as coisas andam muito bem apesar da perda dos cada vez melhores motores da Honda. Carlos Sainz, mesmo rodando na Sudkurve, se recuperou e fechou na ótima quinta posição, aumentando sua vantagem para 21 pontos sobre o resto do pelotão intermediário no campeonato de pilotos, uma condição surpreendente para um piloto tantas vezes subestimado. É a sétima vez que pontua nas últimas oito corridas. Já Lando Norris, que também vem muito bem no campeonato, teve problemas e perdeu bons pontos.

Curiosamente, como em outros casos após a prova, o resultado não agradou Carlos Sainz, que sabe que poderia ter conquistado mais senão fosse a rodada na Sudkurve. O espanhol se lamentou, mas a equipe soube o consolar e mostrar que o futuro ainda aguarda grandes oportunidades para a equipe.

Corrida histórica para Toro Rosso

Após tanto caos e chuva, muita alegria para os da casa de Faenza. A Toro Rosso conquistou seu primeiro pódio de verdade (o primeiro havia sido com a chocante vitória de Vettel em Monza em 2008) depois de uma perfomance incrível de Albon e Kvyat. O anglo-tailandês, que nunca havia pilotado um carro de Fórmula 1 na chuva antes, chegou a lutar com Lewis Hamilton pelo terceiro posto, mesmo contra sua própria vontade, sabendo que perderia tempo e poderia perder posições preciosas. Foi o que exatamente aconteceu. Após aquela disputa, perdeu a posição para Sainz e não conseguiu mais recuperar, perdendo o time de uma parada que colocou seu companheiro de volta à prova e na disputa pelo pódio. Daniil Kvyat, pai da recém-nascida neta de Nelson Piquet, foi firme, ultrapassou Stroll após travada do canadense e terminou em terceiro em uma corrida de redenção. O russo agora é oitavo no campeonato, para surpresa de todos. E por mais incrível que seja, senão fosse a grande prova que estivesse fazendo, Albon poderia ter terminado em terceiro ou na quarta posição, colado com Kvyat.

Único erro de Räikkönen no fim-de-semana

Com Kimi Räikkönen largando entre os cinco primeiros, a Alfa Romeo parecia estar em um sonho quando viu o finlandês pular para terceiro na largada. Mas essa alegria durou pouco. A primeira parada do campeão foi problemática e, potencialmente, custou um incrível pódio para a equipe. Räikkönen caiu para sétimo e se contentou a duelar, durante toda a corrida, com Sebastian Vettel, não deixando que seu ex-companheiro o ultrapassasse até sofrer outro problema em outra parada nos boxes.

Apesar disso, tanto Räikkönen como Antonio Giovinazzi termina entre os oito primeiros colocados, conquistando pontos que os manteriam na briga contra a Toro Rosso e a Racing Point. Porém, após a prova, descobriu-se que uma disfunção na embreagem dos carros da equipe foi capaz de imitar o controle de tração. Esse fato levou os comissário a aplicarem uma punição de 30s, que empurrou ambos os carros para fora da zona de pontuação. A decisão será apelada por Vasseur, que afirma ter provas contundentes de que esta fora precipitada. Veremos nos próximos dias o que a FIA irá dizer sobre o caso, especialmente se tratando de uma equipe que disputa um campeonato em que pode terminar em quarto ou nono. Milhões em jogo.

Mais uma vez perto do pódio, mais uma vez batendo...

Na Renault, a zona impera. Depois da prisão de Carlos Ghosn, tudo aquilo que vinha sendo construído parece se desmoronar. Como se não bastassem os maus resultados, na corrida em que poderiam reverter a situação, Daniel Ricciardo perdeu seu motor e Nico Hülkenberg bate quando tinha o pódio, finalmente, em suas mãos. O alemão soube que disputar com carros superiores seria perca de tempo, mas acabou escorregando na Sudkurve para abandonar quando vinha para conquistar um resultado gigantesco para a equipe francesa. Doloroso para o piloto da casa, e ainda mais para os rapazes de Enstone, que agora estão atrás da McLaren, com motores Renault, e Toro Rosso no campeonato de construtores.

Mesmo após erros, Lance Stroll fechou na ótima quarta posição

Quem realmente saiu sorrido de Hockenheim foi a Racing Point. As atualizações surtiram efeito desejado, com Sérgio Pérez alinhando em oitavo enquanto Lance Stroll finalmente passou do Q1 (graças, é claro, ao abandono de Vettel). No domingo, as situações se inverteram e o mexicano, sempre um rosto conhecido nessas corridas em que vale mais a resiliência do piloto, rodou e bateu logo na segunda volta. Sobrou para Stroll carregar as estratégias inteligentes da equipe para um imenso quarto lugar.

O canadense chegou a ser líder da prova, mas foi superado por Verstappen. Ele só viria a perder o segundo posto, e consequentemente o pódio, porque travou na curva 3 e não conseguiu se defender de Kvyat na reta. No mais, depois de andar em último durante a corrida inteira, Lance Stroll se redimiu com seu pai conquistando pontos importantes e elevando a moral da equipe para Hungaroring, onde deverão estar mais fortes e com mais chances de pontos.

Luz no fim do túnel para a Haas

Para a Haas, o domingo foi de altos e baixos até o finzinho da noite. Com Romain Grosjean largando entre os primeiros, as chances de boa pontuação eram altas. Mas o francês não se deu bem com a estratégia e caiu para atrás, passando a lutar com Magnussen por posições que hora ou outra eram de pontuação. A situação mais interessante surgiu no final da prova, quando ambos se tocaram e se insultaram, para horror de Günther Steiner.

Romain Grosjean correu com a especificação de Melbourne no Hockenheimring após pedir à equipe durante a semana, que efetuou a troca e viu o quão bom era o antigo carro da equipe. Essa mudança acabou por agradar Kevin Magnussen, que também pediu para que o carro fosse convertido para o modelo de Melbourne na próxima corrida, na Hungria. Até lá, a equipe precisa agradecer o ganho, no famoso tapetão, da sétima e da oitava posição, resultados que colocam a equipe de volta na disputa depois de tanta confusão com William Storey.

Kubica aproveitou erro de Russell para conquistar ponto histórico

Para fechar, a equipe Williams também trouxe novidades que surtiram efeito. Apesar de continuar anos-luz atrás do resto do pelotão, o pessoal de Grove conquistou seu primeiro ponto na temporada de forma indesejada, mas ainda assim muito bem-vinda se tratando dos bônus que as equipes que marcam pontos recebem. E esse ponto veio logo com o piloto menos esperado.

Pela primeira vez na temporada, Robert Kubica superou George Russell e herdou o décimo lugar após a punição das Alfa. A ultrapassagem veio após um erro do britânico na curva 3, que provou-se fatal para que ele não conquistasse seu primeiro ponto na categoria. Ainda assim, o único piloto que ainda não pontou temporada é aquele que mais tem chances em um carro tão patético como o FW42. Sendo assim, há a possibilidade de 2019 se tornar a segunda temporada da história em que todos os pilotos inscritos pontuaram.

Vettel foi ameaçado por Kvyat nas últimas curvas

Para concluir, a corrida obviamente foi fantástica e uma honra de se acompanhar. Quem não assistiu, perdeu a melhor prova dos últimos anos, com alternativas, erros dos grandes pilotos e redenção de alguns. Foi também a primeira vez desde o GP de Portugal de 1992 que a Honda colocou dois carros no pódio, e a primeira desde Adelaide 1988 que são carros de duas equipes diferentes, quando Prost, Senna e Piquet foram os três melhores. O verão europeu para os japoneses está sendo tão incrível que zombaram de Fernando Alonso no Twitter na véspera de seu aniversário.

O melhor piloto da corrida foi Max Verstappen, que errou pouco e conquistou uma vitória incrível no Hockenheimring. Sebastian Vettel também merece crédito, tendo se redimido com a torcida após um ótimo desempenho, escorregando apenas na última volta. Daniil Kvyat, pai na noite anterior, foi incentivado por Horner a ter mais filhos graças à uma perfomance que rendeu um merecido pódio para a Toro Rosso. Lance Stroll tentou, mas se contentou com a ótima quarta posição que o coloca, agora, na frente de Pérez na classificação do campeonato.

Então, creio que seja isso. O post é longo e pode não ser um dos melhores, mas como retorno do blog é interessante fazer um assim.

Muito obrigado por ter lido até aqui. Nos vemos no futuro.

E até Hungaroring.

Imagens retiradas do RaceFans.net

sábado, 13 de abril de 2019

Vamos contar até 1000?


Primeiramente, boa noite a todos!

O blog está de volta. Não sei por quanto tempo, mas está. Pensei que esta seria uma oportunidade magnífica para dar uma escapada da rotina e voltar a escrever, tendo passado mais de um ano após a última postagem. Mas vamos logo ao assunto: o milésimo Grande Prêmio de Fórmula 1.

No post de hoje vou apresentar três formas de se contar mil Grandes Prêmios de Fórmula 1, sendo uma delas ainda não vista em nenhum lugar. Pelo menos não que eu saiba... Muitos reclamam do fato do 1000º GP ser em um lugar tão sem tradição como a China, mas é o que foi se desenhando nesses 69 anos de história da Fórmula 1, não é mesmo? Mas e se eu te dissesse que a Fórmula 1 tem 73 anos de vida, acreditaria? Contarei um pouco sobre isso durante o post. Acompanhem:

1) Oficialmente:
Essa não tem como negar (ou tem?). A Fórmula 1 chega a casa do milênio no terceiro fim-de-semana de corrida da temporada 2019, quase setenta anos depois do GP da Grã-Bretanha de 1950, vencido por Giuseppe Farina em uma Alfa Romeo que guiaria o italiano ao título mundial em Monza meses depois.

Não é como sonhavam. O certo para muitos, senão todos, seria uma corrida realizada em Silverstone, mas o verão europeu ainda está longe de começar e, nesses meses de abril, o tempo na Inglaterra não é estável o suficiente para uma corrida segura. Mas fazer o que, não é mesmo? Temos boas perspectivas para daqui a pouco, especialmente se lembrarmos da edição passada do GP da China, quando Daniel Ricciardo venceu uma surpreendente prova decidida na estratégia.


2) Extra-oficialmente:
Agora sim a que eu mais curto. E a que pode chocar alguns: a corrida mil da Fórmula 1 aconteceu no milênio passado! Deixe-me explicar o motivo...

Tudo começa com a criação de um regulamento para as corridas do pós-Guerra, conhecido como Fórmula A ou Fórmula 1, redigido pela antiga CSI (Comission Sportive Internationale), que se tornaria a famosa FISA de Jean-Marie Balestre. Carros pré-Guerra de 3 litros foram banidos, e todas as corridas dependiam daquilo que havia sobrevivido ao conflito, o que tornou os antigos Voiturette (os Fórmula 2 da década de 30) apto para ser o topo do ressurgente automobilismo europeu.

A primeira corrida a levar os conceitos deste regulamento foi o Grande Prêmio de Turim de 1946, vencido por Achille Varzi de Alfa Romeo 158 Alfetta. Porém, carros semelhantes já estavam participando de corridas desde o fim da Guerra. Sendo assim, muitos consideram o Grande Prêmio de Nice, realizado dia 22 de abril, o primeiro da história da Fórmula 1, tendo sido vencido por Luigi Villoresi de Maserati 4CL.

O que se seguiu, até 1950, foram corridas sem qualquer organização em um campeonato europeu ou mundial, o que impede que grandes pilotos como Jean-Pierre Wimille, Tazio Nuvolari e Rudolf Caracciola entrem nos anais da Fórmula 1. Para se ter uma ideia, Chico Landi venceu 4 corridas entre 1946 e 1947, numa época em que Wimille poderia ter lutado para ser o primeiro tricampeão da categoria.

Logo, contando todos os GPs extra-oficiais ocorridos na Fórmula 1, desde 1946 até 1983, temos 369 Grandes Prêmios perdidos na história da categoria, esquecidos por motivos "legais" e só lembrados ocasionalmente por um fato ou outro. Se subtrairmos isso de 1000, temos que o milésimo GP foi o conturbado Grande Prêmio da Austrália de 1999, vencido por Eddie Irvine de Ferrari! Isso mesmo, esqueçam este papo de GP 1000 porque ele já foi...

Brincadeirinha. Se a festa desse ano não é suficiente, que tal termos um motivo para comemorarmos o milésimo GP de novo daqui um tempo?


3) Por uma segunda festa!
Querendo ou não, até mesmo o registro oficial tem seus buracos. Nos últimos dias, muits voltaram a comentar o fato da década de 50 ter contido duas temporadas em que o regulamento foi de Fórmula 2 e que onze edições das 500 Milhas de Indianapolis foram contadas como parte do campeonato entre 1950 e 1960. Pois bem...

São 28 GPs sem o regulamento oficial da Fórmula 1, o que meteria o 1000º Grande Prêmio na temporada europeia de 2020, para a alegria de muitos e, especialmente, dos ingleses... É um novo motivo para festa, não é mesmo? Faremos as contas até lá.

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Vou terminar este post desejando um feliz milésimo Grande Prêmio para todo o circo da Fórmula 1, o que inclui nós, fãs do que consideramos o topo do esporte a motor. Aos trancos e barrancos, a categoria chegou lá, e vai chegar até a marca dos dois mil... Esperamos nos ver lá, daqui algumas décadas!

Aproveite. Não diminua o GP da China de 2019 diante de tantos números. Apenas aproveite. Não haverá outro igual. Eu mesmo, citando tanta coisa fiada, estou muito feliz por estar vivendo este momento. Desde que nasci, já foram 336 GPs de Fórmula 1, e posso comprovar que acompanhei pelo menos 299 corridas. Belo número para quem tem 18 anos. Chupa, Verstappen!

Boa madrugada a todos.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

GP Memorável 86# - Brasil 1978


Pouco menos de quinze dias após GP da Argentina, a Fórmula 1 chegava à quente Rio de Janeiro para o primeiro Grande Prêmio do Brasil realizado na cidade. Seria o também primeiro evento do tipo desde os tempos do Circuito da Gávea. Infelizmente, o motivo de Jacarepaguá estar no calendário não era dos melhores. O descaso com Interlagos contribuiu para a bagunçada prova de 1977 e a exclusão do autódromo do circo mundial até que os problemas no asfalto fossem resolvidos.

Na quinta-feira, um treino de reconhecimento foi realizado, com Emerson Fittipaldi sendo um dos mais rápidos, logo atrás de Mario Andretti. Seria uma miragem? O F5A era o primeiro Copersucar de efeito solo e já estava causando entre os carros de ponta. Enquanto isso, na Brabham, a situação era completamente diferente, com Niki Lauda insatisfeito com os problemas aerodinâmicos do BT45C. Na Lotus, as coisas iam do céu ao inferno. Favoritos à vitória, os carros de Colin Chapman precisaram ser modificados para se enquadrarem no regulamento para os treinos oficiais.

A cisão da Shadow com Jackie Oliver, Alan Rees e Tony Southgate abandonando John Nichols levou à complicações na justiça. Southgate havia feito uma cópia descarada do novo Shadow DN9, inscrevendo o Arrows FA1 já para a prova do Brasil! John Nichols ficou uma fera e processou os dissidentes por espionagem industrial, algo que só seria resolvido meses mais tarde à favor do ex-espião da CIA.


Dominando a categoria, a Goodyear passou a ser ameaçada pelos novos pneus radiais da Michelin, que equipava Renault e Ferrari. A marca norte-americana também seria cortês em uma de suas atitudes durante aquele fim-de-semana, cedendo um dos melhores jogos de pneus, quase sempre destinados ao ponteiros, para Emerson Fittipaldi.

No treino de qualificação da sexta-feira, o brasileiro foi o terceiro mais rápido! Apesar disso, na manhã seguinte, antes da última sessão oficial, desespero abateu o piloto A quebra do semi-eixo traseiro antes da entrada dos boxes levou à discussão entre fiscais e o bicampeão, que pedia ajuda para empurrar o carro de volta à garagem. Mário Patti, diretor de prova, vendo a situação da torre de controle, pediu, via rádio, para que o carro não fosse empurrado pois seria uma ilegalidade grave que poderia tirar Emerson da disputa. Tudo isso culminou num incidente lamentável na qual um fiscal, de apelido Pulguinha, brigou com o piloto da Copersucar, que o agrediu.

Sem tempo para arrumar o carro até a sessão da tarde, o brasileiro foi multado pela agressão e caiu de terceiro para sétimo colocado. Durante o fim-de-semana, Fittipaldi não foi o único a se envolver nesse tipo de incidente. James Hunt foi fechado por seu ex-companheiro Jochen Mass e foi tirar satisfação com o alemão, que ainda conseguiu escapar do punho do inglês furioso.


Depois de um apagado GP da Argentina, Ronnie Peterson foi o mais rápido ao cravar 1:40.45, oito centésimos mais rápido do que James Hunt. Mario Andretti era o terceiro, ao lado de Carlos Reutemann. Quinto lugar foi para Patrick Tambay, muito bem em suas primeiras corridas de McLaren, seguido por Gilles Villeneuve, Emerson Fittipaldi, Alan Jones, na segunda corrida da Williams, Hans-Joachim Stuck e Niki Lauda. O alemão da Shadow retornava ao Rio mais de quatro décadas depois que seu pai correra na Gávea.

Patrick Depailler era o melhor Tyrrell em décimo primeiro, seguido por Jody Scheckter, Brett Lunger, Jacques Laffite, Clay Regazzoni, Jean-Pierre Jarier, Lamberto Leoni, Riccardo Patrese, que substituía Gunnar Nilsson, com câncer, na Arrows, Didier Pironi e Jochen Mass. As últimas posições eram ocupadas por John Watson, de Brabham, com problemas, Hector Rebaque, Danny Ongais e Rupert Keegan. Arturo Merzario, Vittorio Brambilla, Eddie Cheever e Divina Galica não conseguiram se qualificar pelo fato do grid permitir apenas 24 carros alinhando.

Surpreendentemente, o carro reserva de Emerson Fittipaldi passou confiança durante o Warm-Up. Na mesma sessão, as Ferrari, equipadas com os pneus Michelin preparados para a corrida, foram dois segundos mais rápidos do que o resto do pelotão, para desespero das equipes Goodyear. Jacques Laffite sofreria um forte acidente, mas o carro estaria pronto para a largada. Na ATS, confusão generalizada quando um vazamento de combustível impede que Jochen Mass largue. Gunter Schmidt, sempre excêntrico, toma uma controversa decisão de dar o carro de Jean-Pierre Jarier para o alemão. O francês sai como perdedor moral...


Na volta de apresentação, Lamberto Leoni enfrenta problemas de transmissão e não deve largar. A temperatura é brutalmente alta. A partida ocorre sem incidentes, com Reutemann pulando do quarto para o primeiro lugar, abrindo para o resto. Peterson é superado por Hunt e vira alvo de Mario Andretti e Emerson Fittipaldi. O brasileiro passara por Tambay e Villeneuve e era quinto colocado.

Mais atrás, Riccardo Patrese e John Watson se tocam. O britânico cai para último, mas retoma à prova. Reutemann mantém a ponta abrindo mais de dois segundos por volta. Gilles Villeneuve também faz progresso e assume o quinto posto de Fittipaldi, ao mesmo tempo em que Andretti passa por Peterson na Curva Sul. Patrick Tambay é apenas nono, tendo sido ultrapassado por Stuck e Lauda.

Pressionando Peterson, Villeneuve erra e devolve a posição para Fittipaldi na volta 8. Mais adiante, James Hunt começa a ter problemas com seus pneus Goodyear. Antes de parar, o inglês ainda seria superado por Ronnie Peterson e Emerson Fittipaldi. É o fim da disputa para o campeão de 1976. Depailler, em décimo, é obrigado a abandonar com problemas nos freios.


Na décima segunda volta, a torcida delira! Emerson assume o terceiro lugar de Peterson, que volta a ser atacado por Villeneuve. Pouco depois, na Curva Sul, os dois acabariam por ser estranharem, saírem fora da pista e deixar o caminho livre para que Fittipaldi aumentasse a vantagem e tivesse uma corrida tranquila já numa posição de pódio!

Na mesma volta, Jody Scheckter e Patrick Tambay também se tocam. O francês é o mais sortudo das duplas bate-bate, o único a não ser obrigado à parar. Com a suspensão danificada, Ronnie Peterson não resiste na pista e bate, reclamando muito com Gilles Villeneuve quando este passa pelo local onde o sueco abandonou seu Lotus 78. Hunt, Villeneuve, Jones e Watson são nomes de peso já fora de uma disputa por pontos.

A corrida foi demasiada movimentada nas primeiras voltas e, apenas na vigésima quinta, voltaria a ter um pouco de emoção. Riccardo Patrese, mais uma vez, se envolve num acidente e tira James Hunt da prova. Resistindo ao ataque de Niki Lauda na disputa pelo quarto posto, Hans-Joachim Stuck tem de abandonar com problemas na bomba de combustível. Um triste fim para o alemão...

Estreia da Arrows com Riccardo Patrese no volante

No trigésimo quarto giro, Héctor Rebaque, em nono, para nos boxes para se refrescar. O calor é terrível. Patrick Tambay cometeria um erro por conta da exaustão e pararia logo depois da Curva da Lagoa. Na mesma volta, os freios da Ferrari e Gilles Villeneuve vão ao pó e quase causam um grave acidente. O canadense é salvo pelas cercas.

Quase desmaiando, Rebaque desiste e abandona. Na liderança, Carlos Reutemann é imbatível, com mais de quarenta e cinco segundos de vantagem para Mario Andretti, Emerson Fittipaldi, Niki Lauda, Clay Regazzoni e Didier Pironi, que completam os seis melhores lugares. A corrida caminha para o fim sem maiores mudanças, mas na volta cinquenta e sete...

Emerson Fittipaldi toma o segundo lugar de Mario Andretti, preso na quarta marcha, e a euforia toma conta do autódromo de Jacarepaguá. É o Brasil subindo ao pódio em dobro! Pela primeira na história, a Copersucar deve alcançar uma das três primeiras posições. Lauda também passa por Andretti na volta seguinte.


No fim, Mário Patti agita a bandeira quadriculada para Carlos Reutemann. O argentino finalmente tem sua chance na Ferrari. Apesar da vitória, o ferrarista seria menos aclamado do que o verdadeiro herói daquele 28 de janeiro de 1978. Emerson Fittipaldi cruzou na segunda posição, passando por entre uma multidão que invadiu a pista na volta final. Niki Lauda volta ao pódio pela segunda vez com a Brabham, Mario Andretti termina em quarto, Clay Regazzoni marca seus primeiros pontos com a Shadow e Didier Pironi é sexto logo em sua segunda corrida.

Por motivos óbvios, os pneus foram os principais contribuintes para as conquistas de domingo. A Michelin causou crise na Goodyear, que por sua vez, num ato generoso, aumentou e concretizou as esperanças brasileiras de um pódio da Copersucar-Fittipaldi. A Ferrari parece revivida. No campeonato, Mario Andretti lidera Lauda e Reutemann, enquanto Emerson é o novo quarto colocado na tabela de pilotos. Nos construtores, Lotus, Brabham e Ferrari sustentam suas posições graças apenas ao seus primeiros pilotos.


RESULTADOS:
  1. 11 - ARG - Carlos Reutemann - Scuderia Ferrari - 1:49:59.86 - 9pts
  2. 14 - BRA - Emerson Fittipaldi - Copersucar Ford - +49.13 - 6pts
  3. 1 - AUT - Niki Lauda - Brabham Alfa Romeo - +57.02s - 4pts
  4. 5 - EUA - Mario Andretti - Lotus Ford - +1:33.12 - 3pts
  5. 17 - SUI - Clay Regazzoni - Shadow Ford - +1 Volta - 2pts
  6. 3 - FRA - Didier Pironi - Tyrrell Ford - +1 Volta - 1pt
  7. 9 - ALE - Jochen Mass - ATS Ford - +1 Volta
  8. 2 - GBR - John Watson - Brabham Alfa Romeo - +2 Voltas
  9. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Matra - +2 Voltas
  10. 36 - ITA - Riccardo Patrese - Arrows Ford - +4 Voltas
  11. 27 - AUS - Alan Jones - Williams Ford - +5 Voltas
  12. 25 - MEX - Héctor Rebaque - Lotus Ford - Cansaço - OUT
  13. 12 - CAN - Gilles Villeneuve - Scuderia Ferrari - Acidente - OUT
  14. 8 - FRA - Patrick Tambay - McLaren Ford - Rodada - OUT
  15. 16 - ALE - Hans-Joachim Stuck - Shadow Ford - Bomba de combustível - OUT
  16. 7 - GBR - James Hunt - McLaren Ford - Rodada - OUT
  17. 20 - AFS - Jody Scheckter - Wolf Ford - Colisão - OUT
  18. 6 - SUE - Ronnie Peterson - Lotus Ford - Colisão - OUT
  19. 22 - EUA - Danny Ongais - Ensign Ford - Freios - OUT
  20. 30 - EUA - Brett Lunger - McLaren Ford - Superaquecimento - OUT
  21. 4 - FRA - Patrick Depailler - Tyrrell Ford - Freios - OUT
  22. 18 - GBR - Rupert Keegan - Surtees Ford - Acidente - OUT
  23. 23 - ITA - Lamberto Leoni - Ensign Ford - Transmissão - DNS
  24. 10 - FRA - Jean-Pierre Jarier - ATS Ford - Carro usado por companheiro - DNS
  25. 37 - ITA - Arturo Merzario - Merzario Ford - DNQ
  26. 32 - EUA - Eddie Cheever - Theodore Ford - DNQ
  27. 19 - ITA - Vittorio Brambilla - Surtees Ford - DNQ
  28. 24 - GBR - Divina Galica - Hesketh Ford - DNQ
Esses foram os pilotos que participaram do GP.
Volta Mais Rápida: Carlos Reutemann - 1:43.07 - Volta 35

Curiosidades:
- 299º GP
- VII Grande Prêmio do Brasil
- Realizado no dia 29 de janeiro de 1978, em Jacarepaguá
- 6º vitória de Carlos Reutemann
- 50º GP de Hans-Joachim Stuck
- 50º GP de Jacques Laffite
- 69º vitória da Ferrari
- 1º e único pódio da Copersucar
- 1º GP da Arrows
- 69º vitória do motor Ferrari




  • MELHOR PILOTO: Emerson Fittipaldi
  • SORTUDO: Niki Lauda
  • AZARADO: Mario Andretti
  • SURPRESA: Michelin

Emerson Fittipaldi foi fantástico durante aquele fim-de-semana. A vontade de conquistar uma grande resultado na frente da torcida brasileiro era grande e se tornou realidade pelo braço do bicampeão e pela qualidade do novo F5A. O pódio veio na raça e não dos abandonos de outros competidores. Simplesmente, a maior conquista do automobilismo brasileiro! Niki Lauda, mesmo muito insatisfeito, voltou ao pódio, herdando o terceiro lugar de Andretti e se esforçando ao máximo para não deixar o norte-americano escapar no campeonato. Já a Michelin foi a tremenda surpresa. Pela primeira vez na história, um carro equipado com pneus radiais venceu uma corrida. E que vitória! Massacrando a concorrência dos Goodyear e instaurando uma crise na marca americana.



Campeonato de pilotos:
  1. 5 - EUA - Mario Andretti - Lotus Ford - 12pts
  2. 1 - AUT - Niki Lauda - Brabham Alfa Romeo - 10pts
  3. 11 - ARG - Carlos Reutemann - Scuderia Ferrari - 9pts
  4. 14 - BRA - Emerson Fittipaldi - Copersucar Ford - 6pts
  5. 4 - FRA - Patrick Depailler - Tyrrell Ford - 5pts
  6. 7 - GBR - James Hunt - McLaren Ford - 3pts
  7. 17 - SUI - Clay Regazzoni - Shadow Ford - 2pts
  8. 6 - SUE - Ronnie Peterson - Lotus Ford - 2pts
  9. 3 - FRA - Didier Pironi - Tyrrell Ford - 1pt
  10. 8 - FRA - Patrick Tambay - McLaren Ford - 1pt

Campeonato de construtores:
  1. GBR - John Player Team Lotus - Lotus Ford - 78 - AND/PET - G - 12pts
  2. GBR - Parmalat Racing Team - Brabham Alfa Romeo - BT45C - LAU/WAT - G - 10pts
  3. ITA - Scuderia Ferrari SpA SEFAC - Ferrari - 312T2B - REU/VIL - M - 9pts
  4. BRA - Fittipaldi Automotive - Copersucar-Fittipaldi Ford - F5A - FIT - G - 6pts
  5. GBR - Elf Team Tyrrell - Tyrrell Ford - 008 - PIR/DEP - G - 5pts
  6. GBR - Marlboro Team McLaren - McLaren Ford - M26 - HUN/TAM - G - 3pts
  7. GBR - Shadow Racing Team - Shadow Ford - DN8 - STU/REG - G - 2pts


Imagens tiradas do Google Imagens - GPExpert.com.br - F1-History.deviantart.com

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

GP Memorável #84 - Detroit 1986


No dia seguinte ao GP do Canadá, René Arnoux voou para o sul de Montreal para pescar com alguns amigos. Durante o voo, o hidroavião em que estava foi surpreendido por um tornado perto de Mont-Tremblant e por sorte, e pela experiência do piloto, conseguiram escapar da morte e aterrisar uma hora depois. Semanas após Surer, Arnoux poderia ter sido o próximo nome a se despedir da Fórmula 1 de maneira trágica.

Já em Detroit, as tensões de Montreal finalmente resultaram em conflito. Pelo fato das autoridades americanas exigirem a devolução de 30% do prêmio dos GPs de Detroit desde 1982, pilotos como Nelson Piquet e René Arnoux pedem pelo cancelamento da prova. Bernie Ecclestone precisa negociar de forma que não decepcione os pilotos, mas o veredicto é duro: 600 mil doláres tiveram que ser devolvidos para os Estados Unidos.

FOCA e FISA também decidem o futuro da categoria na América. Os ingleses pedem por mini-corridas aos sábados para evitar as perigosas qualificações e seus setups especiais, mas a ideia parece distante da realidade e Balestre recusou-a. A FISA pretende instalar uma flange nos turbos, mas as fornecedoras não querem perder o tempo gasto no desenvolvimento destes e um consenso parece longe de ser alcançado. Com essa disputa de interesses, BMW e Porsche flertam com a CART, enquanto Alfa Romeo teme perder o investimento no novo motor turbo de quatro cilindros, já testado e prestes a equipar Tyrrell e Ligier em 1987.

Eddie Cheever volta à Fórmula 1

Patrick Tambay pensa na aposentadoria após o acidente no Canadá, sem se recuperar da forma devida e nem apresentar interessente num possível retorno. Carl Haas busca um substituto para a corrida caseira. O primeiro nome a ser cogitado é o de Michael Andretti, filho do campeão de 1978, muito bem na IndyCar, mas FISA negou conceder a super-licença ao americano. Com isso, Eddie Cheever deve retornar à Fórmula 1 nas ruas de Detroit, onde havia subido ao pódio em 1982.

Christian Danner fará sua estreia na Arrows, enquanto Enzo Osella opta pelo dinheiro mexicano vindo do jovem canadense Allen Berg para substituir o alemão ao lado de Ghinzani. Berg tinha uma rápida passagem pela Fórmula 3 Britânica na mesma época em que Brundle e Senna lutavam pelo título, o que ofuscou totalmente qualquer bom desempenho que pudesse ter.

Na McLaren, rumores indicam descontamento de Keke Rosberg e uma possível aposentadoria ao termino do ano. A nova Fórmula 1 não é para o finlandês. Stefan Johansson já teria assinado com Ron Dennis para correr em 1987, mas nada havia sido oficializado até Detroit. Na casa ao lado, de Ken Tyrrell, Philippe Streiff volta a correr com o velho 014.

Johansson perdeu o capacete. Mansell emprestou e este foi o resultado

Nos treinos de sexta, Mansell é o mais rápido, mas, no sábado, Ayrton Senna supera o tempo do inglês por meio segundo. O talento do brasileiro em pistas de rua é magnífico, algo totalmente contrário ao de seu compatriota da Williams, que não consegue acompanhar o companheiro ao passo que acusa os internos de sua equipe de favorece-lo. Piquet ainda consegue ser terceiro, com duas surpreendentes Ligier, Arnoux quarto, Laffite sexto, divididos por Johansson, constantemente mais rápido que Alboreto, apenas décimo primeiro.

Alain Prost era apenas o sétimo mais rápido, seguido por Riccardo Patrese de Brabham, Keke Rosberg e um entusiasmado Eddie Cheever na décima posição. Berger era o melhor dos Benetton em décimo segundo, ao lado de Thierry Boutsen e a frente de Johnny Dumfries, que sofre durante todo o fim-de-semana. Martin Brundle e Philippe Streiff não tiram proveito do ótimo chassis Tyrrell, e mal conseguem se colocar nos vinte melhores, misturando tinta com Warwick, Fabi, Danner e Palmer. Fechando o grid, Jones, cada vez mais desanimado, a Osella de Ghinzani, as Minardi de de Cesaris e Nannini, um lentíssimo Berg, dez segundos atrás do poletime, e Huub Rothengatter fechando o pelotão de 26 carros em Detroit.

Logo após o treino de sábado, franceses e brasileiro se juntam em frente à TV para acompanhar Brasil e França pelas quartas-de-final da Copa do Mundo. O esperado duelo entre Zico e Platini seria decidido nos penaltis e em favor aos europeus. Com a derrota, o sonho brasileiro havia acabado mais uma vez, menos traumático, mas tão doloroso quanto o de quatro ano antes. A moral do Brasil estava baixa...


O domingo em Detroit é de forte calor e ventania, mas a possibilidade de chuva é miníma. Logo na volta de apresentação, Huub Rothengatter é obrigado a abandonar com problemas elétricos. A prova mal começou. Na partida, Senna mantém a ponta com Mansell em segundo e Arnoux ultrapassando Piquet para ser terceiro. Mais atrás, Alboreto vai de décimo primeiro para oitavo e Alan Jones de vigésimo primeiro para décimo quinto (!). Uma corrida promissora para os carros da casa.

Pressionado, Ayrton é superado por Mansell na segunda volta, enquanto Laffite e Alboreto pressionam Prost pelo sexto posto até este ceder. A prova de Rosberg seria breve. Enfrentando problemas desde a sétima volta, o finlandês abandonaria na décima quarta posição. Os postulantes ao título agradecem.

Para recuperar a ponta, Senna faz belíssima manobra na saída do túnel, tarda a freada e passa por Mansell na oitava volta, com Arnoux fazendo o básico sobre o inglês logo depois. Desesperado para entrar na briga pela vitória, Laffite supera, em seis voltas, Johansson, Piquet e Mansell, assumindo a terceira posição. Alain Prost se recupera das adversidades e retoma o sexto posto das Ferrari.


Piquet é cauteloso nesse início de corrida, sendo superado inclusive por Prost na volta treze, ao mesmo tempo em que Alboreto passa por Johansson na briga pela sétima posição Na liderança, Senna tem um furo. Pode ser um desastre para o brasileiro, que vai aos boxes fazer sua troca, retornando em oitavo, atrás das Ferrari e à frente de um surpreendente Eddie Cheever. Agora quem lidera é Arnoux com Laffite em segundo! As Ligier tem sua melhor perfomance desde 1981.

Com pneus desgastados, Arnoux não é capaz de segurar Laffite, que inicia um ataque dura voltas intermináveis para o velho francês, que só superaria o companheiro com uma enfurecida reclamação clássica após a Rua Larned. Esta foi a primeira vez que ambos lideraram desde 1983. E também a última...

O maravilhoso desempenho da Ligier de Laffite não permite o ataque de Arnoux, que vira alvo fácil de Mansell, Prost e Piquet, que se aproximam. Fazendo volta mais rápida atrás de volta mais rápida, Ayrton já é sexto. Agora temos uma das partes mais interessantes da prova. Na volta vinte e sete, René Arnoux faz sua parada ao mesmo passo em que, pouco antes, tanto Piquet quanto Senna fizeram belíssimas manobras para superar Prost. É a alegria de Brasil superar França!

Allen Berg estreando pela Osella

Seguindo, três giros depois, Piquet e Senna também passam por Mansell, não demorando para fazerem o mesmo com Jacques Laffite, que vai aos boxes fazer sua troca. O oldman voltaria logo atrás de René Arnoux, para seu desespero. Mansell também tinha parado e era sexto, logo atrás das Ligier.

Na volta trinta e sete, Eddie Cheever, numa promissora décima colocação é obrigado a abandonar. É o segundo carro de Carl Haas a enfrentar problemas com a porca da roda, agora levando o bólido diretamente para o muro. É o fim do sonho americano, mais um pesadelo australiano para Jones e um retorno desilusório de Cheever.

Senna e Piquet lutam pela ponta. Brasil na frente com três franceses logo atrás. Na trigésima nona volta, Nelson vai para sua troca, mas enfrenta problemas com o dianteiro direito e perde quase vinte segundos nos boxes. No giro seguinte, Ayrton faz sua segunda e última parada para voltar em primeiro, com uma boa diferença para o ex-líder Piquet.


Com problemas nos freios, Mansell perde o sexto posto para Johansson, Patrese, que decidiu não parar, e Alboreto. A situação é delicada para o britânico, fora dos pontos enquanto Senna caminha para a vitória. Nessa altura, Piquet ataca as curvas de Detroit para recuperar o terreno perdido para o compatriota. É nisso que, na volta quarenta e dois, na curva 17, o bicampeão do mundo erra o cálculo, bate na parte interna da curva e vai parar do outro lado da pista. Seis pontos preciossímos perdidos por Piquet.

Tendo passado Prost, Arnoux agora sonha com a vitória em Detroit. Com pneus mais novos, a façanha é completamente possível e só seria concretizada após outra conquista sobre... um brasileiro. O carro de Piquet ficou simplesmente largado na saída da 17, numa posição perigosa e sem possibilidade de ser retirado. As bandeiras amarelas são agitadas.

Durante as voltas que seguiram, Mansell passaria por Patrese e Alboreto, retomando o quinto lugar, com o ferrarista em sexto e o italiano da Brabham em sétimo. A corrida tomaria contornos infelizes para a França. As bandeiras amarelas pararam de ser mostradas na Atwater Street e nas curvas 16 e 17, onde o carro de Piquet ainda está. Na volta quarenta e sete, imaginando a pista limpa, Arnoux contorna aberto e vai direto para o Williams. É fim de corrida para o francês, que rapidamente tenta dar ré e abandonar o carro do outro lado da pista. Mas nesse movimento, Thierry Boutsen abaldoa o Ligier por trás. Dois homens fora, um postulante à vitória, num golpe de irresponsabilidade e amadorismo dos organizadores.


Críticas voltam a estourar entre os americanos e a FISA. Culpam Balestre por um regulamento falho, onde o pace car não existe e as bandeiras amarelas só são mostradas por cinco voltas! O tormento maior é na cabeça de Arnoux, que perde sua última chance de conquistar uma vitória. É triste para o francês, mas alegria para o Brasil. Uma vingança, se mal dizer...

Poucas voltas depois, Laffite superou facilmente Prost para assumir o segundo posto. Ainda antes do fim, Michele Alboreto recuperaria a frente de Mansell. Com dez carros sobrando na pista, Ayrton Senna conquista sua quarta vitória, com o velho Jacques Laffite, enfrentando com problemas na embreagem e no câmbio, em segundo e Prost em terceiro. Alboreto, Mansell e Patrese fecharam os lugares pontuáveis.

Depois da corrida, Senna pega a bandeira brasileira e desfila com ela pela pista. É a primeira vez que o "rito" é feito. Com profunda desaprovação, o brasileiro criticou "O que aconteceu é escandaloso, criminoso. Nunca deixamos um F1 abandonado na trajetória. Um perigo colossal.". René Arnoux está desolado, enquanto Laffite comemora o seu último pódio mesmo com as enormes adversidades.


No fim, a edição de 1986 do GP de Detroit foi um dos mais desafiadores para os pilotos. Calor escaldante num circuito cansativo, cheio de ondulações e armadilhas em todas as esquinas. A vitória de Senna coloca o Brasil de volta à ponta no campeonato de pilotos, com três pontos de vantagem para o segundo colocado Alain Prost.

RESULTADOS:
  1. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 1:51:12.847 - 9pts
  2. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - +30.837 - 6pts
  3. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - +31.824 - 4pts
  4. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - +1:30.936 - 3pts
  5. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - +1 Volta - 2pts
  6. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - +1 Volta - 1pt
  7. 11 - GBR - Johnny Dumfries - Lotus Renault - +2 Voltas
  8. 14 - GBR - Jonathan Palmer - Zakspeed Racing - +2 Voltas
  9. 4 - FRA - Philippe Streiff - Tyrrell Rrenault - +2 Voltas
  10. 8 - GBR - Derek Warwick - Brabham BMW - +3 Voltas
  11. 17 - ALE - Christian Danner - Arrows BMW - Elétrico - OUT
  12. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - Colisão - OUT
  13. 18 - BEL - Thierry Boutsen - Arrows BMW - Colisão - OUT
  14. 23 - ITA - Andrea de Cesaris - Minardi Motori Moderni - Diferencial - OUT
  15. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - Acidente - OUT
  16. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - Alternador - OUT
  17. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - Câmbio - OUT
  18. 16 - EUA - Eddie Cheever - Lola Ford - Porca da roda - OUT
  19. 15 - AUS - Alan Jones - Lola Ford - Porca da roda - OUT
  20. 22 - CAN - Allen Berg - Osella Alfa Romeo - Turbo - OUT
  21. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - Transmissão - OUT
  22. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - Ignição - OUT
  23. 24 - ITA - Alessandro Nannini - Minardi Motori Moderni - Turbo - OUT
  24. 29 - HOL - Huub Rothengatter - Zakspeed Racing - Elétrico - DNS
Esses foram os pilotos que correram no fim-de-semana.
Volta Mais Rápida: Nelson Piquet - 1:41.233 - Volta 41


Curiosidades:
- 427º GP
- V Grande Prêmio de Detroit
- Realizado no dia 22 de junho de 1986, em Detroit
- 4º vitória de Ayrton Senna
- 32º e último pódio de Jacques Laffite
- 77º vitória da Lotus
- 400º GP da Ferrari
- 20º vitória do motor Renault


  • MELHOR PILOTO: Ayrton Senna / Jacques Laffite
  • SORTUDO: Alain Prost
  • AZARADO: Nelson Piquet / René Arnoux
  • SURPRESA: Eddie Cheever
Ayrton Senna foi espetacular mais uma vez. Mesmo depois do furo, o brasileiro se recuperou e venceu a corrida com méritos. Já Laffite fez todo trabalho possível com seu Ligier, enfrentando gravíssimos problemas na embreagem, no câmbio e com um vazamento de óleo para, ainda assim, terminar em segundo. Prost teve sorte, mesmo sem uma brilhante performance durante o fim-de-semana, subiu ao pódio e conquistou mais preciosos pontos, algo que Piquet não conseguiu ao bater antes da chicane que antece os boxes, mesmo problema que Arnoux, muito desiludido, teve. Eddie Cheever já havia subido ao pódio em Detroit, e no seu retorno foi fenomenal, superando com sobras Alan Jones e andando sempre entre os dez primeiros antes de abandonar.

Campeonato de pilotos:
  1. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 36pts
  2. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - 33pts
  3. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 29pts
  4. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - 19pts
  5. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - 14pts
  6. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - 13pts
  7. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - 7pts
  8. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - 6pts
  9. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - 6pts
  10. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - 6pts
  11. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - 2pts
  12. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - 2pts
  13. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - 2pt



Campeonato de construtores:
  1. GBR - Canon Williams Honda Team - Williams Honda - FW11 - MAN/PIQ - G - 48pts
  2. GBR - Marlboro McLaren International - McLaren TAG-Porsche - MP4/2C - PRO/ROS - G - 47pts
  3. GBR - John Player Special Team Lotus - Lotus Renault - 98T - DUM/SEN - G - 36pts
  4. FRA - Equipe Ligier - Ligier Renault - JS27 - ARN/LAF - P - 19pts
  5. ITA - Scuderia Ferrari SpA SEFAC - Ferrari - F1/86 - ALB/JOH - G - 13pts
  6. GBR - Benetton Formula Ltd. - Benetton BMW - B186 - FAB/BER - P - 8pts
  7. GBR - Data General Team Tyrrell - Tyrrell Renault - 014/015 - BRU/STR - G - 2pts
  8. GBR - Motor Racing Developments - Brabham BMW - BT55 - PAT/ANG - P - 2pts
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