domingo, 24 de janeiro de 2016

GP Memorável 68# - África do Sul 1985


Semanas depois de Brands Hatch, o circo chegava ao meio de controvérsias em Kyalami para mais um GP da África do Sul. Parecia que a década de 80 teve todas as suas confusões bem no país africano, com motivos que sempre envolviam os pilotos, as equipes, os organizadores e até a disputa entre FISA e FOCA, que acabou por não validar a edição de 1981 do GP sul-africano. 

No ano seguinte, a greve dos pilotos, acarretada por um novo e polêmico regulamento de superlicenças, quase impediu a realização da prova e acabou por deixar a Argentina sem um Grande Prêmio pois os patrocinadores acabaram rescindindo o contrato temendo novas revoltas lideradas por grandes nomes do grid, como Jacques Laffite e Niki Lauda.

Mas não estávamos mais em 1981 ou 1982, e sim em 1985, quando a Fórmula 1 já havia decidido um título por lá em 1983 além de ver uma vitória de Lauda em 1984, decretando o início de uma das melhores disputas de título da história. Nunca, nunca mesmo, o apartheid acabou sendo citado numa prova da categoria, afinal, era a coisa mais normal do mundo... (sarcasmo).


Parecia que em 1985 tudo que estava acontecendo na África do Sul desde 1948, isso mesmo, desde 1948, veio á tona para o mundo gerando uma polêmica tão grande que não havia como a Fórmula 1 escapar da conversa, especialmente por ser o único grande esporte que jamais fez uma restrição ao país africano desde aquela data, enquanto organizações, como o COI haviam banido a África do Sul de seus eventos.

Apesar do absurdo da segregação racial, acredito que há algo pior do que isso: ninguém havia notado? Eu, que não era nascido na época, não faço ideia se havia algum comentário sobre o terrível regime que estava imperando no país desde a década de 40. E de repente isto vem á tona? Essa é a ignorância do ser humano? E agora tudo estava nos ombros da FISA...

Jean-Marie Balestre, homem duro que, sinceramente, admirei alguns de seus atos, ainda se mostrou alguém alá Ken Tyrrell, mantendo a prova independentemente do que estava ocorrendo no país, especialmente ao dizer que a Fórmula 1 não se envolvia em assuntos políticos. Pelo menos, para não passar em branco, Balestre retirou a prova do calendário de 1986, o que culminou na falência de Kyalami.


Vários governos fizeram pedidos aos seus pilotos e equipes para que não corressem na África do Sul, mas apenas François Mitterrand, presidente da França, conseguiu segurar as rédeas das equipes de seu país, apesar de que elas já não estavam muito difíceis de segurar: a Renault sofria na temporada, e mesmo faltando a uma etapa, não teria nada a perder da mesma forma da Ligier.

Por outro lado, Mitterrand não conseguiu segurar o novo campeão do mundo Alain Prost, criticado por correr em Kyalami, e o jovem Philippe Streiff, que foi liberado pela Ligier para correr no lugar de Ivan Capelli na Tyrrell. Outra coisa que o presidente francês não conseguiu evitar era a participação das equipes equipadas com o motor Renault, que manteve sua logo estampada nos carros da Lotus e da Tyrrell.

Porém haviam motivos que eram maiores do que os políticos, para os pilotos, que infelizmente tem uma imgagem manchada pelo egoísmo causado em correr a prova. Pilotos como Stefan Johansson e Philippe Streiff ainda não tinham casa confirmada para 1986, e tentavam uma vaga na Ferrari e na Tyrrell, respectivamente. Então, para mim, é plausível a ida desses pilotos.


Rosberg, Piquet e Senna foram proibidos de correr pelos seus países, mas participaram normalmente da prova, afinal, estavam na disputa pela terceira posição da tabela de pilotos. Mas há uma exceção, a de Niki Lauda, que havia quebrado o pulso semanas antes e estava de volta logo em Kyalami, pensando em não participar da prova até mudar de ideia e fazer polêmica ao chegar na África da Sul, afinal, não estava disputando nada no campeonato. O único motivo mais plausível é que aquela seria sua última temporada.

Marcas como Marlboro, Barclay e Beatrice retirarão seus logos dos carros de equipes que, porém, ainda usavam um layout de pintura que mantinha a propaganda de seus patrocinadores. Além do boicote da Renault e Ligier (apenas quatro carros, pequeno número em relação à polemica do momento), RAM e Zakspeed não levaram seus carros para a África do Sul. A equipe de John MacDonald decidiu se reagrupar para resolver algumas coisas sobre 1986, enquanto a equipe alemã já havia fechado sua temporada com a última etapa européia do ano.


Nos treinos, Nigel Mansell marca sua segunda pole position da carreira, sendo 0.124s mais rápido do que Nelson Piquet, formando a primeira fila com seu novo companheiro de equipe para a temporada de 1986. Logo depois vinha Keke Rosberg com Ayrton Senna ao seu lado, Marc Surer é quinto, Elio de Angelis o sexto e Teo Fabi, Niki Lauda, Alain Prost e Thierry Boutsen fecham o top ten.

Gerhard Berger e Riccardo Patrese formavam a sexta fila, sendo seguidos por Piercarlo Ghinzani e Eddie Cheever enquanto Michele Alboreto e Stefan Johansson eram apenas décimo quinto e décimo sexto colocados no grid, com Martin Brundle colocando-se na frente de Alan Jones que fica no meio das Tyrrell. Pierluigi Martini e Huub Rothengatter fecham o pelotão.

Apesar de marcar o 18º tempo dos 21, Jones não largaria por motivos de saúde, priorizando a prova daqui a duas semanas, em casa, quando finalmente a Austrália estreará na Fórmula 1. Na partida, Mansell e Rosberg pulam para a frente com Ayrton ficando atrás de de Angelis, enquanto Piquet se segurava na mesma linha de dentro com Marc Surer se aproximando para tomar a posição de ambas as Lotus.


Ainda na reta, Rosberg erra marcha e fica atrás de Surer e das duas Lotus. Mais ao fundo, Eddie Cheever e Riccardo Patrese se tocam e acabam abandonando, deixando o grid de apenas 20 carros mais vazio. Logo, Marc Surer é superado por Elio de Angelis, Ayrton Senna, Keke Rosberg e Niki Lauda, caindo para a sétima posição. Ghinzani também se envolveu no toque das Alfas e teve de ir aos boxes, algo crucial para o resultado da corrida.

Rosberg já começava seu show indo em busca da liderança da corrida, ultrapassando Senna, de Angelis e Piquet para assumir a segunda posição na quinta volta, com o brasileiro da Brabham perdendo seu motor turbo e abandonando logo depois. Antes de Nelson, Surer, Rothengatter e Fabi já haviam saído da corrida, mostrando que a prova poderia se tornar um fiasco com o baixo número de pilotos terminando.


Voltas antes, Alain Prost já havia tomado a posição de Niki Lauda, enquanto Michele Alboreto se mantinha na frente de Gerhard Berger, oitavo colocado, com Martin Brundle em nono e Stefan Johansson fechando o top ten. Thierry Boutsen, Philippe Streiff, Pierluigi Martini e Piercarlo Ghinzani se mantinham na pista, mas não por muito tempo.

Batalhando com de Angelis, Senna assume a terceira colocação na mesma volta em que Keke Rosberg toma a ponta de Nigel Mansell, já abrindo para o companheiro de equipe. Atrasado, em relação ás voltas, Ghinzani estoura seu motor Hart em plena reta de Kyalami, chegando à primeira curva ainda espalhando óleo pela pista. Resultado?


Martini rodou e teve sorte em não ir para a terra, sorte que Rosberg, que vinha forte, não teve, rodando e perdendo a ponta para Rosberg. Quase no mesmo instante, Ayrton Senna vai aos boxes e abandona a prova por causa do motor, enquanto Alboreto se arrasta no circuito com problemas em seu turbo Ferrari. É Kyalami, seu calor, suas retas e seus desafios fazendo vitimas.

Gerhard Berger foi aos boxes, voltando na nona posição, enquanto Rosberg ficava agora em quinto. Pressionando Elio de Angelis, Alain Prost e Niki Lauda superam o italiano para assumirem a segunda e a terceira colocação respectivamente, com o italiano tentando ao máximo poupar seu carro para chegar ao fim da prova.


Numa corrida monótona, Nigel Mansell segurava Prost e Lauda, enquanto o showman Rosberg se aproximava de de Angelis, ultrapassando o italiano na volta dezesseis, sem antes de Stefan Johansson assumir a sexta posição ao passar por Martin Brundle. Havia apenas onze carros na pista, mas Philippe Streiff queria mostrar trabalho para Ken Tyrrell e por isso encontrou um dos muros do circuito sul-africano, abandonando a prova e deixando apenas dez bólidos em Kyalami.

Forçando, Rosberg tem que ir aos boxes na volta vinte e seis, voltando em sexto logo atrás de Martin Brundle que ganhou a posição perdida para Johansson depois do ferrarista parar. Na vigésima sétima volta, Keke passa por Brundle, além de Berger superar seu companheiro de equipe na disputa pela sétima colocação. Pouco depois, Stefan Johansson conseguiria passar por ambas as Arrows.


de Angelis também vai para os boxes pra trocar os pneus, voltando entre Brundle e Johansson. Com Mansell segunda a ponta, as duas McLaren param, com Alain Prost voltando atrás de Niki Lauda que vê ali a chance de mostrar seu talento novamente em 1985, mas falha, com seu turbo estourando e obrigando á um triste abandono em sua penúltima corrida da carreira.

Alain Prost agora tenta superar Nigel Mansell, que também faz a sua parada e volta na liderança, enquanto de Angelis assume a quarta posição ao ultrapassar Martin Brundle. O britânico para na volta quarenta e dois, retornando na penúltima colocação ao perder a posição para Johansson, Boutsen e Berger. Sem falar que o belga conseguiu passar pelo austríaco voltas antes.


Pierluigi Martini também abandona, não fazendo muita diferença ao não ser sujar a reta dos boxes ainda mais de óleo. Com Prost colado e tentando passar por Mansell, Rosberg começa a se aproximar que nem louco de ambos, tentando uma vitória que lhe era merecida. Aos poucos, o campeão do mundo começa a ter problemas elétricos e começa a perder terreno para Mansell, que respira.

Forçando, Keke é obrigado a parar pela segunda vez, algo absurdo naqueles tempos. Tentando se manter na zona de pontos, Elio de Angelis acaba sendo a última vitima do GP da África do Sul, também estourando o motor Renault de sua Lotus. A classificação no momento é Mansell em primeiro, Prost em segundo, Rosberg em terceiro, Johansson em quarto, Boutsen em quinto, Berger em sexto e Brundle em sétimo. Só...


Mas ainda havia emoção por vim, depois de uma prova que só havia tido momentos interessantes em suas primeiras voltas. Thierry Boutsen foi para os boxes, entregando a quinta colocação pra Gerhard Berger que caminha para seus primeiros pontos oficiais. Keke Rosberg, aquele que deu show em quase todas as provas do ano, finalmente daria o maior em Kyalami, nas últimas voltas.

Até então, Rosberg "poupava" o carro na perseguição á Alain Prost, mas quando o francês finalmente entrou no campo de visão do piloto da Williams, aí a torcida foi à loucura. Alucinado (como disse Galvão Bueno narrando as últimas voltas), Keke tirou a diferença para Prost, subindo em zebras e saindo de lado em várias curvas. Quando o finlandês assumiu a segunda colocação, parecia que o show havia acabado, mas havia mais por vim.



Agora perseguindo o impossível, a vitória, Rosberg realmente alucinou saindo fora da pista e indo até a grama em certos pontos do circuito, isso tudo para tentar alcançar Mansell, que não era mais alcançável, vencendo a prova sem muitas dificuldades, com o finlandês em segundo, Johansson em quarto e Berger e Boutsen fechando os pontos para a Arrows, mas ainda tinha alguém faltando para cruzar a linha de chegada...

Alain Prost, com problemas, se arrastou pelo circuito de Kyalami na última volta, cruzando a linha de chegada aos empurrões de seu corpo dentro cockpit. É nesse momento que eu pergunto: "Valia mesmo a pena de ter ido á Kyalami para pilotos como Lauda, Senna, Piquet, Prost, Alboreto, Ghinzani, Fabi, Patrese, Cheever e ainda mais Jones?


RESULTADOS:
  1. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 1:28:22.866 - 9pts
  2. 6 - FIN - Keke Rosberg - Williams Honda - +7.572s - 6pts
  3. 2 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - +1 Volta - 4pts
  4. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - +1 Volta - 3pts
  5. 17 - AUT - Gerhard Berger - Arrows BMW - +1 Volta - 2pts
  6. 18 - BEL - Thierry Boutsen - Arrows BMW - +1 Volta - 1pt
  7. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - +2 Voltas
  8. 11 - ITA - Elio de Angelis - Lotus Renault - Motor - OUT
  9. 29 - ITA - Pierluigi Martini - Minardi Motori Moderni - Radiador - OUT
  10. 1 - AUT - Niki Lauda - McLaren TAG-Porsche - Turbo - OUT
  11. 4 - FRA - Philippe Streiff - Tyrrel Renault - Acidente - OUT
  12. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - Motor - OUT
  13. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - Turbo - OUT
  14. 7 - BRA - Nelson Piquet - Brabham BMW - Motor - OUT
  15. 20 - ITA - Piercarlo Ghinzani - Toleman Hart - Motor - OUT
  16. 19 - ITA - Teo Fabi - Toleman Hart - Motor - OUT
  17. 8 - SUI - Marc Surer - Brabham BMW - Motor - OUT
  18. 24 - HOL - Huub Rothengatter - Osella Alfa Romeo - Elétrico - OUT
  19. 22 - ITA - Riccardo Patrese - Benetton Team Alfa Romeo - Colisão - OUT
  20. 23 - EUA - Eddie Cheever - Benetton Team Alfa Romeo - Colisão - OUT
  21. 33 - AUS - Alan Jones - Team Haas (USA) Hart - Indisposto - OUT
Volta Mais Rápida: Keke Rosberg - 1:08.149 - Volta 74


Curiosidades:
- 419º GP
- XIX Grand Prix of South Africa
- Realizado no dia 19 de outubro de 1985
- Último GP no antigo Kyalami
- Último GP realizado no sábado
- Último GP não realizado em um domingo
- Retorno de Niki Lauda
- Estreia de Philippe Streiff na Tyrrell
- 2º vitória de Nigel Mansell
- 2º pole position de Nigel Mansell
- 21º vitória da Williams
- 6º vitória do motor Honda
- 30º pódio do motor TAG-Porsche

  • MELHOR PILOTO: Keke Rosberg
  • SORTUDO: Nigel Mansell
  • AZARADO: Keke Rosberg
  • SURPRESA: Gerhard Berger
Rosberg deu seu melhor show do ano em Kyalami, alucinado durante toda a corrida para terminar numa imerecida segunda posição, sendo o azarão por rodar no óleo deixado pelo motor Hart de Ghinzani. Já Mansell teve sorte mais uma vez, vencendo a prova sem cometer e erros. Berger por sua vez finalmente pontuou oficialmente, conquistando um quinto lugar depois da parada de Boutsen e dos abandonos dos outros pilotos.


Campeonato de Pilotos:
  1. 2 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - 73pts
  2. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - 53pts
  3. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 38pts
  4. 11 - ITA - Elio de Angelis - Lotus Renault - 33pts
  5. 6 - FIN - Keke Rosberg - Williams Honda - 31pts
  6. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 31pts
  7. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - 25pts
  8. 7 - BRA - Nelson Piquet - Brabham BMW - 21pts
  9. 1 - AUT - Niki Lauda - McLaren TAG-Porsche - 14pts
  10. 15 - FRA - Patrick Tambay - Renault Elf - 11pts
  11. 18 - BEL - Thierry Boutsen - Arrows BMW - 11pts
  12. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - 10pts
  13. 8 - SUI - Marc Surer - Brabham BMW - 5pts
  14. 16 - GBR - Derek Warwick - Renault Elf - 5pts
  15. 4 / 3 - ALE - Stefan Bellof - Tyrrell Ford / Tyrrell Renault - 4pts
  16. 25 - ITA - Andrea de Cesaris - Ligier Renault - 3pts
  17. 28 - FRA - René Arnoux - Scuderia Ferrari - 3pts
  18. 17 - AUT - Gerhard Berger - Arrows BMW - 2pts

Campeonato de Construtores:
  1. Marlboro McLaren International - McLaren TAG-Porsche - MP4/2B - LAU/PRO - G - 90pts
  2. Scuderia Ferrari SpA SEFAC - Ferrari - 156/85 - ALB/ARN/JOH - G - 80pts
  3. John Player Special Team Lotus - Lotus Renault - 97T - ANG/SEN - G - 71pts
  4. Canon Williams Honda - Williams Honda - FW10 - MAN/ROS - G - 62pts
  5. Motor Racing Developments - Brabham BMW - BT54 - PIQ/HES/SUR - P - 26pts
  6. Équipe Renault Elf - Renault Elf - RE60 / RE60B - HES/TAM/WAR - G - 16pts
  7. Équipe Ligier - Ligier Renault - JS25 - CES/STR/LAF - P - 13pts
  8. Barclay Arrows BMW - Arrows BMW - A8 - BER/BOU - G - 13pts
  9. Tyrrell Racing Organisation - Tyrrell Ford - 012 - BRU/BEL/JOH - G - 4pts


Imagens tiradas do Google Imagens - Formula 1 HIGH RES photos - GPExpert.com.br

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