quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

GP Memorável 80# - Espanha 1986


Com a TV espanhola aderindo à transmissões ao vivo de corridas da categoria, Bernie Ecclestone sentiu-se atraído por um possível retorno ao país ibérico. E, ao invés de escolher Jarama ou até mesmo Montjuïc para receber a prova, o inglês preferiu dar uma chance para o recém construído circuito de Jerez de la Frontera, uma vez que o prefeito da cidade queria promover o turismo pelas bandas de Sevilha.

Construído em nove meses, o autódromo logo foi criticado pelos pilotos. A falta de áreas de escape, de barreiras de proteção que realmente dessem alguma segurança e a largura da pista foram alguns dos pontos mais criticados. Para piorar, os arredores do circuito pareciam um deserto, com alguns poucos hotéis e estacionamentos sem pavimento. Assim, a Fórmula 1 estava de volta a Espanha depois de cinco anos de ausência...

As semanas entre a abertura do campeonato, no Brasil, e a segunda etapa viram Henri Julien comprar os espólios de um velho RE40 da Renault, se juntando, mais tarde, à uma equipe italiana para a montagem do carro. Parecia que o sonho do velho Julien de trazer a AGS à Fórmula 1 estava próximo de se tornar realidade.


Após permanecerem três dias no Rio, logo depois do Grande Prêmio, os Brabham BT56 traziam mudanças no motor, na suspensão e no coletor de admissão. As Lotus de Senna e Dumfries estavam com novos condutores de admissão, na qual Tyrrell e Ligier ainda não tinham. Já a Ferrari havia gasto o tempo disponível para corrigir as imperfeições do F186, ao mesmo tempo que anunciava o desejo de ingressar na CART em 1987.

E, finalmente, a Tyrrell trouxe o novo 015, com algumas poucas evoluções do 014. Infelizmente, Martin Brundle cometeu um erro nos treinos de sábado e acabou no muro, destruindo as chances de estreia para o 015. Mesmo assim, o britânico saiu feliz após as primeiras voltas feitas no carro, que agora tinha o novo motor Renault.

Já na Renault as coisas andavam de mal a pior. O novo de governo de Jacques Chirac na França havia desencorajado a continuação da equipe na Fórmula 1 como fornecedora de motor, o que queria dizer que o desejo de Georges Besse, CEO da marca, estava prestes a se concretizar. Enquanto isso, Guy Ligier não parecia preocupado com a situação dos compatriotas, afinal, pareciam estar numa guerra silenciosa.


Enquanto a Renault fornecia dois motores para as Lotus, a Ligier recebia apenas um! Ligier ainda afirmava que não havia a preferência por um piloto ou outro dentro de sua equipe, criando uma pequena crise interna, que seria resolvida por um simpático Arnoux que cedeu, gentilmente, o motor para o velho Jacques Laffite.

Nos treinos, Ayrton Senna conquista a 100º pole position para a Lotus com o tempo de 1:21.605, quase um segundo mais rápido do que os Williams de Nelson Piquet e Nigel Mansell. Logo, a legalidade do 98T começou a ser questionada, com acusações de que ele seria dotado de pequenas asas que criam um efeito solo. Gérard Ducarouge negou. Enquanto isso, o brasileiro se vê obrigado a receber massagens do famoso austríaco Willi Dungl, dado os esforços feitos em busca do melhor tempo.

Alain Prost era quarto, com Keke Rosberg em quinto e René Arnoux na ótima sexta posição. Berger abria quarta fila, com Jacques Laffite ao seu lado e Teo Fabi, seguido por Johnny Dumfries, logo atrás. Na décima primeira posição estava o primeiro carro da Ferrari com Stefan Johansson, seguido por Martin Brundle, com o velho chassis 014, e por Michele Alboreto. Mesmo com as mudanças na Brabham, Riccardo Patrese era décimo quarto e Elio de Angelis apenas décimo quinto.


Fechando o grid estavam o Zakspeed de Jonathan Palmer em décimo sexto, o Lola Hart de Alan Jones em décimo sétimo, o outro Lola de Patrick Tambay em décimo oitavo, a Arrows de Thierry Boutsen em décimo nono, a Tyrrell de Philippe Streiff em vigésimo, a Osella de Piercarlo Ghinzani em vigésimo primeiro, a outra Arrows de Marc Surer em vigésimo segundo, a outra Osella de Christian Danner em vigésimo terceiro, Andrea de Cesaris em vigésimo quarto e Alessandro Nannini em vigésimo quinto.

O domingo amanhece sob forte sol e céu aberto, o que não evita a presença de meros 15 mil espectadores nas novíssimas arquibancadas de Jerez, quase vazias e sem nenhum brilho. As criticas a nova era da Fórmula 1, implantada por Bernie Ecclestone, começam nesse sentido. No Warm-Up, Keke Rosberg enfrentou problemas de motor que poderiam prejudicar sua corrida.

Na volta de apresentação, Nannini tem problemas no diferencial e não chega ao grid. Na largada, Ayrton Senna pula a frente com Nelson Piquet em segundo, Nigel Mansell em terceiro, Keke Rosberg em quarto e Alain Prost em quinto. Fabi tocou em Laffite, quebrando sua asa dianteira, tendo que parar, voltando no fim do pelotão.


Ainda na primeira volta, Alan Jones e Jonathan Palmer se colidem e abandonam, seguido por Andrea de Cesaris que, como seu companheiro, enfrentou problemas no diferencial de sua Minardi. No segundo giro, Keke Rosberg supera Mansell e assume o terceiro posto, enquanto Dumfries perde posições para Johansson, Alboreto e Berger.

Rosberg começa a ameaçar Piquet, enquanto o Leão é superado por Alain Prost na disputa pelo quarto lugar. Mais atrás, Riccardo Patrese passa Martin Brundle e assume o décimo segundo lugar antes de abandonar com a quebra de sua transmissão. Na nona volta, Patrick Tambay, décimo quarto naquela altura, para com problemas no freio de seu Lola, retornando na última posição.

No giro seguinte, Piercarlo Ghinzani abandona após o estouro de seu motor Alfa Romeo, mesmo problema que afetaria o companheiro Christian Danner poucas voltas depois. Entre os abandonos dos Osella, Stefan Johansson trava as rodas e bate violentamente na barreira de pneus, conseguindo sair de sua Ferrari antes de cair, em choque, no chão. O sueco teria de ser levado numa maca para o centro médico do autódromo para exames.


Ayrton Senna lidera, com Nelson Piquet em segundo, Alain Prost em terceiro, Nigel Mansell em quarto, René Arnoux em quinto e Jacques Laffite em sexto. Mais ao fundo, Teo Fabi ganha o décimo quinto lugar de Elio de Angelis. Agora com a certeza de que chegará até o fim, Mansell vai a luta pela vitória, ultrapassando Prost e iniciando uma forte pressão sobre Rosberg.

Brundle toma o décimo lugar de Dumfries na mesma altura em que Streiff abandona com o outro Tyrrell. O único carro da Ferrari na pista também enfrenta problemas e abandona. Michele Alboreto era apenas o oitavo colocado, sem chances de ameaçar as Ligier. Na volta seguinte, o motor Renault de Arnoux não resiste ao calor espanhol e leva o francês a abandonar a prova enquanto era sexto.

Com o pelotão da frente tentando superar os retardatários, Mansell usa a pouca paciência de Rosberg para assumir o terceiro posto. Senna começa a fugir de Piquet, que agora é seriamente ameaçado pelo companheiro de equipe. Na abertura da volta 33, o britânico superaria o brasileiro. Poucos tempo depois, foi a vez de Prost superar Rosberg, que agora se preocupa em economizar combustível depois de tanto esforço nas primeiras voltas.


Atacando Senna, Mansell volta a usar a cabeça (o que?), percebe que o brasileiro se atrapalhou com Brundle e assume a liderança. Na mesma volta, Nelson Piquet abandona com superaquecimento, enquanto Laffite se junta ao seu companheiro com os mesmos problemas no motor Renault e Marc Surer para com um vazamento de combustível.

Na sexta posição, Brundle tem pouco tempo para comemorar: seu motor Renault o trai. Johnny Dumfries agora é sexto. No giro 46, Gerhard Berger vai aos boxes trocar os pneus, cedendo o quinto posto para o conde escocês. Nessa altura, Teodorico Fabi já estava na incrível sétima colocação, restando apenas nove carros na pista.

Senna continua atacando Mansell, enquanto, na volta 52, seu companheiro de Lotus abandona com problemas na caixa de câmbio. Atacando Berger, Teo Fabi assume o quinto lugar do austríaco após recuperação espantosa. Nos boxes, Patrick Head prepara pneus novos para seu piloto, que se nega a parar enquanto é atacado pelo brasileiro.


Sem escolha, o britânico vai aos boxes na volta 62 e retorna na terceira posição. Senna lidera Prost por apenas um segundo, mas o francês é incapaz de acompanhar o brasileiro enquanto seus Goodyear se esfarelam no asfalto de Jerez. Mansell agora tira incríveis quatro segundos por volta! Colocando a possível vitória de Ayrton Senna em jogo.

Sem a inteligência que havia tido nas últimas voltas, Nigel Mansell perderia tempo atrás de Alain Prost antes de supera-lo, restando apenas quatro voltas para o fim tendo de chegar em Ayrton Senna, que sofre com o desgaste de seus pneus.

O que o mundo estava vendo era um show de pilotagem tanto por parte do britânico tanto por parte do brasileiro, que resistiria de forma incrível ao ataque alucinado de Mansell. No fim, apenas 0.014s dividiam os dois, a menor diferença entre o vencedor e o segundo colocado desde o GP da Itália de 1971. Prost terminou em terceiro, seguido por Rosberg, Fabi e Berger, que fecharam os lugares pontuáveis.


Depois da corrida, Senna disse que seus pneus estavam destruídos quando ainda restavam sete voltas para o fim, enquanto Mansell esperava ter dado um belo espetáculo para Frank Williams, que devia estar assistindo naquela altura de sua recuperação. Alain Prost estava decepcionado, já que um erro no computador mostrava que deveria andar com prudência por causa do combustível sendo que terminara com incríveis 18 litros no tanque!

Recuperado, Stefan Johansson voltou aos boxes da Ferrari com um belo sorriso, contando que chegou a cair da maca no caminho para o centro médico: "o motorista estava dirigindo como um louco" disse o sorridente sueco que escapou de lesões mais graves.

No campeonato, um novo líder: Ayrton Senna tinha quinze pontos contra nove de Nelson Piquet. Nigel Mansell assumia o terceiro lugar com seis, enquanto Laffite e Prost dividiam o quarto lugar com quatro pontos para cada. Rosberg e Arnoux tinham três e Fabi, Brundle e Berger dois. Na tabela de construtores, Lotus e Williams estavam empatadas com quinze pontos, sendo seguidas por Ligier e McLaren com sete, Benetton com quatro e Tyrrell com dois.

A próxima parada do circo seria na Itália, em Imola, para o Grande Prêmio de San Marino.


RESULTADOS:

  1. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 1:48:47.735 - 9pts
  2. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - +0.014s - 6pts
  3. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - +21.552s - 4pts
  4. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - +1 Volta - 3pts
  5. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - +1 Volta - 2pts
  6. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - +1 Volta - 1pt
  7. 18 - BEL - Theirry Boutsen - Arrows BMW - +4 Voltas
  8. 16 - FRA - Patrick Tambay - Lola Hart - +6 Voltas
  9. 11 - GBR - Johnny Dumfries - Lotus Renault - Caixa de Câmbio - OUT
  10. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - Vazamento de Óleo - OUT
  11. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - Semi-eixo - OUT
  12. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - Superaquecimento - OUT
  13. 17 - SUI - Marc Surer - Arrows BMW - Vazamento de Combustível - OUT
  14. 8 - ITA - Elio de Angelis - Brabham BMW - Transmissão - OUT
  15. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - Semi-eixo - OUT
  16. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - Roda - OUT
  17. 4 - FRA - Philippe Streiff - Tyrrell Renault - Vazamento de Óleo - OUT
  18. 22 - ALE - Christian Danner - Osella Alfa Romeo - Motor - OUT
  19. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - Acidente - OUT
  20. 21 - ITA - Piercarlo Ghinzani - Osella Alfa Romeo - Motor - OUT
  21. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - Transmissão - OUT
  22. 23 - ITA - Andrea de Cesaris - Minardi Motori Moderni - Diferencial - OUT
  23. 14 - GBR - Jonathan Palmer - Zakspeed Racing - Colisão - OUT
  24. 15 - AUS - Alan Jones - Lola Hart - Colisão - OUT
  25. 24 - ITA - Alessandro Nannini - Minardi Motori Moderni - Diferencial - DNS
Esses foram os pilotos que participaram da corrida
Volta Mais Rápida: Nigel Mansell - 1:27.176 - Volta 65


Curiosidades
- 422º GP
- XXVIII Grande Prêmio da Espanha
- Relizado no dia 13 de abril de 1986, em Jerez de la Frontera
- 3º vitória de Ayrton Senna
- 9º pole position de Ayrton Senna
- 100º GP de Keke Rosberg
- 76º vitória da Lotus
- 100º pole position da Lotus
- 350º GP da Lotus
- 19º vitória do motor Renault
- 3º chegada mais apertada da história da F1


  • MELHOR PILOTO: Ayrton Senna
  • SORTUDO: Ayrton Senna
  • AZARADO: Alain Prost
  • SURPRESA: N/H
Desde os treinos classificatórios até a corrida, Ayrton Senna deu show, conquistando uma incrível vitória na base da sorte de ver um Nigel Mansell pouco estratégico. Alain Prost teve azar, pois, sem usasse todo o combustível que dispunha, poderia lutar pela vitória.


Campeonato de pilotos:
  1. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 15pts
  2. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - 9pts
  3. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 6pts
  4. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - 4pts*
  5. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - 4pts*
  6. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - 3pts**
  7. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - 3pts**
  8. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - 2pts***
  9. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - 2pts***
  10. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - 2pts
* empatados
** empatados
*** empatados

Campeonato de construtores:
  1. GBR - Canon Williams Honda Team - Williams Honda - FW11 - MAN/PIQ - G - 15pts*
  2. GBR - John Player Special Team Lotus - Lotus Renault - 98T - DUM/SEN - G - 15pts*
  3. FRA - Équipe Ligier - Ligier Renault - JS27 - ARN/LAF - P - 7pts**
  4. GBR - Marlboro McLaren International - McLaren TAG-Porsche - MP4/2C - PRO/ROS - G - 7pts**
  5. GBR - Benetton Formula Ltd. - Benetton BMW - B186 - FAB/BER - P - 4pts
  6. GBR - Data General Team Tyrrell - Tyrrell Renault - 014 - BRU/STR - G - 2pts
Imagens tiradas do Google Imagens - GPExpert.com.br - F1-History.deviantart.com

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